Orgasmo é poder: desvendando o tabu do prazer e celebrando a liberdade corporal
No Dia do Orgasmo, refletimos sobre como o prazer é uma forma de autoconhecimento, empoderamento e resistência política contra a repressão social.
O prazer é um direito, mas segue sendo tratado como um privilégio, principalmente quando falamos do prazer de mulheres, pessoas LGBTQIAPN+ e corpos dissidentes. No Dia do Orgasmo, comemorado em 31 de julho, a discussão vai além da cama: é sobre liberdade, política e afeto. Para Heitor Werneck, estilista, produtor de eventos e diretor artístico da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de São Paulo, o orgasmo continua sendo interditado por normas morais e sociais. Criador do Projeto Luxúria, maior festa fetichista da América Latina, ele defende: “Orgasmo é poder. Quando você tira isso de alguém, pelo medo, pela vergonha ou pela repressão, você tira também a autonomia desse corpo.”
Apesar dos avanços em educação sexual e liberdade de expressão, muitas pessoas ainda vivem desconectadas de seu próprio prazer. “O orgasmo deveria ser algo natural, acessível e celebrado. Mas em vez disso, é cercado por culpa, silêncio e desinformação”, diz Heitor.
Segundo ele, essa repressão tem raízes históricas. “Desde sempre o orgasmo foi algo permitido para uns e negado a outros. As mulheres foram ensinadas a sentir vergonha do próprio corpo. Pessoas LGBTQIAPN+ foram patologizadas por desejar diferente. Tudo isso ainda ecoa.”
Para Heitor, viver o próprio prazer é também um caminho para o autoconhecimento. “Você só entende quem você é quando começa a escutar o seu corpo de verdade. O orgasmo não é só gozo, é linguagem. Ele fala sobre seus limites, seus desejos, suas necessidades emocionais.”
No Projeto Luxúria, que reúne mensalmente pessoas interessadas em BDSM e sexualidades alternativas, o prazer é vivido com consciência, segurança e respeito mútuo. “Não é sobre transar mais. É sobre viver melhor. Prazer sem culpa é um dos maiores atos de resistência que a gente pode praticar”, reforça.
Dados da pesquisa do Programa Nacional de Saúde (IBGE, 2019) mostram que 1 em cada 5 mulheres brasileiras nunca chegou ao orgasmo. O número revela não só a desinformação, mas também o desinteresse estrutural em educar sobre o prazer feminino e plural.
“O orgasmo precisa ser tratado com a mesma seriedade que tratamos qualquer outro aspecto da saúde. Porque é disso que se trata: saúde física, emocional e relacional”, afirma Heitor.
Como viver o prazer com mais liberdade?
Heitor dá cinco conselhos práticos:
• Comece com você: masturbação é autoconhecimento
• Converse abertamente sobre o que gosta e não gosta
• Tire o prazer do campo da performance e traga para a intimidade
• Leia, estude, participe de rodas, eventos e debates sobre sexualidade
• Cerque-se de pessoas que validam seus desejos e respeitam seus limites
Ao falar sobre prazer de forma aberta, ética e consciente, Heitor também fala sobre política. “Enquanto houver culpa no orgasmo, haverá controle sobre os corpos. Por isso, o Dia do Orgasmo é um convite: para nos conhecermos, nos tocarmos e nos libertarmos.” E finaliza com a pergunta que costuma fazer nas festas do Luxúria: “Você goza para agradar ou para existir?”
Por Ana Carolina Gaivota
Artigo de opinião