Protegendo Crianças nas Férias: Segurança Emocional, Digital e Corporal

Como pais e cuidadores podem garantir um ambiente seguro e acolhedor durante o período de descanso escolar

Férias escolares são sinônimo de descanso, diversão e liberdade para crianças e adolescentes. Mas também podem representar riscos silenciosos: maior tempo online, distância do ambiente familiar e exposição a situações delicadas em festas do pijama, viagens ou colônias de férias. Por isso, pais e cuidadores devem estar atentos e preparados para proteger emocional, digital e fisicamente seus filhos.

Mudanças sutis que falam alto
Durante as férias, é comum que crianças fiquem mais tempo com amigos, cuidadores ou familiares. Os adultos devem observar sinais como mudanças de humor, isolamento, medos repentinos, distúrbios no sono ou na alimentação, comportamentos regressivos (como voltar a fazer xixi na cama) e frases que indicam desconforto com o próprio corpo.
O mais importante é criar um espaço seguro de escuta, onde a criança sinta que pode falar sem medo. Quando os adultos estão atentos e disponíveis, isso já é uma grande forma de prevenção.

Preparar sem assustar: como orientar para festas e viagens
Festas do pijama e colônias de férias são experiências ricas para o desenvolvimento infantil, mas exigem orientação. Pais devem conversar com linguagem direta e adequada à idade. Explique que o corpo dela é dela, que pode dizer “não”, que ninguém pode tocá-la sem consentimento. Dê exemplos do que é esperado em ambientes coletivos.
É fundamental conhecer os adultos responsáveis e manter o canal de comunicação sempre aberto. A ideia não é gerar medo, mas fortalecer a confiança da criança nela mesma e nos adultos. Proteger é estar presente, mesmo de longe.

Confiança se constrói no cotidiano
Crianças não vão relatar situações desconfortáveis se não se sentirem acolhidas. O mais eficaz é construir diariamente um vínculo de confiança: quando os pais escutam sem julgar e validam sentimentos, a criança entende que pode contar com eles.
Converse sobre o corpo, os sentimentos e os limites. Explique desde cedo que existem toques bons e toques que machucam. Ensinar isso é um ato de proteção. Mesmo distante, a criança aprende que não está sozinha.

Telas, pornografia e perigos online
Com mais tempo livre, o uso da internet aumenta nas férias. Recomenda-se estabelecer uma rotina digital equilibrada, com combinações claras sobre conteúdo e horários. Inclua a criança nas decisões para que ela entenda que é cuidado, não punição.
Alerta-se para os riscos da exposição à pornografia, desafios perigosos e interações com desconhecidos. Mais do que bloquear, é preciso ensinar a reconhecer riscos e pedir ajuda. Educar para o uso consciente é mais eficaz do que vigiar.

Ferramentas tecnológicas e afetivas
Aplicativos de controle parental, filtros de busca e bloqueadores são aliados importantes, mas não suficientes. A melhor ferramenta ainda é o diálogo. Quando os pais conversam sobre pornografia, aliciamento ou desafios, a criança se sente segura para contar o que viu ou sentiu.
O foco deve ser o fortalecimento do discernimento, e não apenas o controle. Tecnologia ajuda, mas a base é a relação de confiança.

Educação sexual e emocional: sim, mesmo nas férias
Esses temas não precisam de aulas formais: podem surgir em brincadeiras, filmes, passeios ou momentos de afeto. Ao ver uma cena em um desenho, pergunte: “Como você se sentiria nisso?”. Isso abre espaço para reflexão.
Educar é ensinar a nomear sentimentos, respeitar o corpo e compreender limites. Falar sobre isso com leveza é um ato de amor.

Dicas práticas para o dia a dia de pais e cuidadores
– Aproveite momentos cotidianos — Durante o banho ou refeições, fale sobre corpo, cuidado e sentimentos de forma natural.
– Use filmes e histórias como gatilho para conversa — Pergunte: “O que você achou disso?” ou “Como você se sentiria nessa situação?”
– Brinque de nomear emoções — Com carinhas felizes, tristes, com raiva etc., ajude a identificar sentimentos e empatia.
– Ensine limites com exemplos reais — Em brincadeiras, mostre que dizer “não” é importante e que ela tem autonomia sobre seu corpo.
– Escute mais do que fale — Acolha o inesperado. A escuta ativa reforça o vínculo.
– Evite frases como “isso não é coisa de criança” — Substitua por: “Boa pergunta, vamos falar sobre isso do seu jeitinho?”
– Reforce que ela pode contar com você — Diga com frequência: “Se algo te deixar desconfortável, você pode me contar. Eu estou aqui pra te proteger”.

Com escuta, presença e afeto, as férias podem ser muito mais do que descanso: podem ser uma oportunidade valiosa de proteção, autonomia e fortalecimento de laços familiares.

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Por Marcela Jardim

educadora física, sexóloga, educadora sexual, psicanalista e professora de filosofia

Artigo de opinião

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