Implanon no SUS: avanços e desafios na escolha do contraceptivo ideal

A chegada do implante subdérmico amplia as opções, mas a decisão deve ser sempre personalizada e orientada por especialistas

Na última quarta-feira (9), o Ministério da Saúde anunciou que o Implanon, um implante subdérmico hormonal, começará a ser ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida foi bastante aplaudida por internautas em diversas redes, que consideram o anticoncepcional “o mais moderno do mercado” atualmente.

O Implanon representa um avanço importante na oferta de métodos contraceptivos na rede pública, mas não deve ser encarado como solução universal. Não existe um único método ideal para todas as mulheres. O Implanon é altamente eficaz, mas como qualquer contraceptivo hormonal, ele exige uma avaliação individualizada. É um implante que libera progesterona de forma contínua por três anos. Pode funcionar muito bem para uma paciente, mas causar efeitos indesejados em outra.

O Implanon, que na rede particular custa entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, é conhecido por sua alta eficácia e longa duração: ele age por até três anos sem necessidade de manutenção ou uso diário. De acordo com o Ministério da Saúde, a previsão é distribuir cerca de 1,8 milhão de unidades do Implanon até 2026, sendo 500 mil ainda neste ano.

Com a incorporação do Implanon, o SUS passa a oferecer um total de dez métodos contraceptivos, entre hormonais, de barreira e definitivos:

1. Pílula combinada (estrogênio + progesterona)
Recomendada para mulheres sem contraindicações cardiovasculares. Deve ser tomada diariamente. É eficaz, mas depende de disciplina. Pode não ser a melhor escolha para quem esquece com frequência.

2. Minipílula (somente progesterona)
Boa opção para quem amamenta ou tem restrição ao estrogênio. Tem eficácia levemente menor e também exige uso diário, mas é segura para muitas mulheres.

3. Injetáveis mensais e trimestrais
Liberação hormonal contínua via injeção. Práticos para quem prefere não tomar pílulas, mas o efeito colateral mais comum é a irregularidade menstrual.

4. Implante subdérmico (Implanon)
Inserido sob a pele, dura até 3 anos. Alta eficácia, baixa manutenção, boa opção para adolescentes e mulheres com baixa adesão a outros métodos.

5. DIU de cobre
Método não hormonal, dura de 5 a 10 anos. É eficaz e livre de hormônios, mas pode aumentar fluxo menstrual e cólicas.

6. DIU hormonal (levonorgestrel)
Reduz ou elimina a menstruação. Dura até 8 anos. Ideal para quem tem sangramentos intensos ou endometriose.

7. Preservativos (masculino e feminino)
Além de contraceptivos, protegem contra ISTs. Fundamentais em relações casuais ou quando há risco de exposição a infecções.

8. Diafragma
Método de barreira que deve ser usado com espermicida. Pouco utilizado no Brasil e com menor eficácia.

9. Laqueadura tubária (esterilização feminina)
Método cirúrgico definitivo. Indicado para quem já tem filhos e tem certeza da decisão.

10. Vasectomia (esterilização masculina)
Procedimento rápido e definitivo. É um dos métodos mais seguros, e pouco invasivo comparado à laqueadura.

Do ponto de vista da saúde pública, os métodos mais indicados são aqueles de alta eficácia, baixa manutenção e bom perfil de segurança hormonal, como o Implanon e o DIU hormonal. Entretanto, métodos hormonais devem ser avaliados com cautela em mulheres com histórico de trombose, enxaqueca com aura, hipertensão descontrolada ou fumantes acima de 35 anos. Nesses casos, métodos não hormonais, como o DIU de cobre ou os preservativos, podem ser mais seguros.

Antes de tudo, é preciso individualizar. Um método excelente para uma paciente pode ser uma escolha inadequada para outra. Por isso, o aconselhamento ginecológico é fundamental.

A chegada do Implanon ao SUS é uma conquista para as mulheres brasileiras, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidade social. A medida amplia o leque de escolhas, reduz desigualdades no acesso à contracepção e fortalece a autonomia reprodutiva.

Ainda assim, nenhuma ampliação de oferta substitui a importância da orientação médica. A contracepção é uma questão de saúde, não de conveniência. Ter mais opções é um passo enorme, mas garantir o uso seguro e consciente é igualmente essencial.

D

Por Dr. Vamberto Maia Filho

Ginecologista especializado em reprodução humana, 20 anos de prática dedicada à infertilidade, primeiro residente em reprodução humana do Brasil, participou da equipe do primeiro bebê por FIV do SUS em Recife, doutor pela UNIFESP, 11 anos dedicados ao ensino em ginecologia endócrina com ênfase em pesquisa científica, autor do livro “Filhos, histórias inspiradoras”

Artigo de opinião

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