A liberdade e o poder da mulher aos 40+: autoconfiança e aceitação além dos padrões
A personagem Consuelo, de Vale Tudo, exemplifica como a maturidade traz desejo, autoestima e transformação nas relações familiares
A chegada aos 40 anos marca, para muitas mulheres, um capítulo de transformação e liberdade. Longe de significar estagnação, essa fase pode ser exatamente o contrário, um período de mudanças significativas, tanto físicas quanto psicológicas, e a chegada da autonomia, inclusive no que se refere ao desejo sexual.
É o que retrata com precisão a personagem de Belize Pombal, a Consuelo, da novela Vale Tudo. Após algumas investidas no marido Jarbas, ela traduz o que tantas mulheres vivem fora das telas, uma libido que desperta com força e uma vaidade mais consciente, sim, porém livre de padrões rígidos.
Segundo a médica ginecologista e pesquisadora Fabiane Berta, a mudança é resultado de uma combinação hormonal e emocional. “Por volta dos 40 anos, muitas mulheres entram em uma fase de pré-menopausa chamada climatério, quando os níveis de estrogênio começam a oscilar. Apesar da queda gradual, Consuelo provavelmente sente esse estímulo porque está bem conectada com ela mesma, está com a autoestima lá em cima, segura de si, sabendo o que quer e o que lhe dá satisfação. Com a maturidade, a mulher ganha tudo isso e nenhuma interferência, corpo, idade, obesidade, nada abala, isso é lindo de abordar”, explica.
Além disso, na fase em que a mulher está mais confiante e cheia de vitalidade, o amadurecimento emocional exerce grande influência. “A mulher se conhece melhor, sabe o que gosta e o que precisa, e aprende a colocar suas vontades em primeiro lugar. Essa autoconfiança impacta diretamente nas relações familiares”, complementa Berta, que é especialista em menopausa e criadora do movimento MyPausa.
Quando o assunto é vaidade, aos 40, ela ganha um novo sentido, pois deixa de ser uma obrigação para se tornar um gesto de autocuidado e amor-próprio, e foi exatamente assim que Consuelo alertou a amiga Raquel sobre a necessidade de se olhar mais, de se cuidar mais, o que resultou em uma enorme e notável repaginada no visual da empreendedora.
“Cuidar da aparência nessa fase é cuidar também da autoestima, é como afirmar a própria força e celebrar a beleza real, que vai muito além do espelho. Outra coisa importante de explicar é que o estrogênio na mulher negra é muito maior, então a Consuelo tem essa potência de uma predominância estrogênica pela etnia. Ela pode até ter um pouco de queda hormonal, mas o fato de estar bem com ela e não seguindo os paradigmas da estética, se aceitando e conectada com a essencialidade dela, reflete nessa beleza de mulher e de personagem”, aponta a médica.
O fato é que, tanto na novela quanto na vida real, a maturidade revela uma força silenciosa e magnética. Tanto que a secretária Consuelo passou a exigir a divisão de tarefas em casa e a expor as duplas, triplas jornadas que as mulheres enfrentam. “Nós precisamos falar abertamente sobre os desafios que encontramos com as alterações hormonais e a forma como isso impacta na família. A Consuelo nos representa, nós precisamos normalizar essa conversa, não apenas para acolher, mas para transformar as relações de uma forma muito mais empática”, finaliza Fabiane Berta.
Por Fabiane Berta
Médica ginecologista e pesquisadora formada pela FMSCSP; mestranda no núcleo da Endometriose Dor Pélvica e Menopausa pela UNIFESP; pós-graduada em Endocrinologia, Neurociências e Comportamento; Key Opinion Maker Fagron Brasil; Pl e Chefe do Steering Committee do Estudo MYPAUSA; Criadora e Fundadora do MYPAUSA.
Artigo de opinião