O Novo Mindset do Esporte: Saúde em Alta e Álcool em Baixa
Como a busca por performance e bem-estar está transformando hábitos e abrindo espaço para um estilo de vida mais consciente
Durante muito tempo, o consumo de álcool ocupou um lugar social privilegiado — associado à celebração, ao descanso e até à recompensa após um treino intenso. Mas, à medida que a cultura do bem-estar ganha força e o esporte se torna parte da rotina de milhões de pessoas, esse hábito vem sendo colocado em xeque. Hoje, a pergunta que ecoa nas academias, nos grupos de corrida e nas clínicas de medicina esportiva é simples, mas provocadora: o álcool ainda faz sentido na vida de quem busca performance?
A saúde em primeiro lugar
O mercado de saúde, bem-estar e fitness está em plena transformação, e isso passa, inevitavelmente, pela relação com o álcool. Pesquisas recentes mostram que o consumo regular de bebidas alcoólicas compromete o desempenho físico, a recuperação muscular, a hidratação, o sono e até a imunidade. Um estudo da National Strength and Conditioning Association mostra que mesmo pequenas doses de álcool podem afetar a síntese de proteínas e retardar a recuperação pós-exercício. Outro dado, da British Journal of Sports Medicine, aponta que o consumo excessivo pode reduzir em até 11% a capacidade cardiovascular em atletas amadores.
Essas informações não estão mais restritas a artigos acadêmicos: elas estão na boca do consumidor. De acordo com um levantamento do Global Wellness Institute, a busca por conteúdo sobre “álcool e saúde” aumentou 180% nos últimos dois anos em plataformas digitais. Termos como mindful drinking e sobriedade consciente viraram tendência em redes sociais, revistas de fitness e eventos de bem-estar. A geração que antes normalizava a “cervejinha pós-treino” agora questiona seus impactos e busca alternativas.
Comportamento em mudança
Essa transformação é visível também no comportamento dos consumidores. Relatórios do Euromonitor International indicam que 41% dos jovens adultos em mercados urbanos reduziram o consumo de álcool nos últimos 12 meses, motivados principalmente por preocupações com saúde física, clareza mental e qualidade do sono. No Brasil, o relatório Vigitel 2023 apontou uma redução no consumo abusivo de álcool entre adultos praticantes de atividade física regular, especialmente nas grandes capitais.
O setor fitness e esportivo já entendeu o recado. Academias têm promovido campanhas de conscientização sobre o impacto do álcool no rendimento, eventos esportivos vêm oferecendo versões “sober friendly” com bebidas funcionais e marcas do setor de nutrição esportiva passaram a incluir orientações sobre o tema em seus programas. Influenciadores e treinadores também vêm puxando essa conversa, ampliando o alcance da pauta.
Oportunidades (e responsabilidades) para o mercado
É nesse contexto que surgem oportunidades reais para marcas e negócios que oferecem soluções coerentes com esse novo estilo de vida. O crescimento das bebidas sem álcool — especialmente cervejas, drinks e kombuchas voltadas ao público ativo — é prova disso. Segundo dados da IWSR Drinks Market Analysis, o mercado global de bebidas low & no alcohol deve crescer 7% ao ano até 2027. O Brasil, inclusive, é destaque entre os países emergentes com maior potencial de crescimento nesse segmento.
Além das bebidas, há espaço para programas de suporte nutricional, apps de monitoramento de hábitos, serviços de coaching de bem-estar e comunidades digitais voltadas à performance consciente. Tudo o que contribui para uma vida com mais clareza, disciplina e equilíbrio tem chance de se conectar com esse novo público, que quer ir além da estética e valoriza saúde integral.
O copo está mudando
A mídia especializada, os eventos esportivos e até entidades médicas já vêm tratando esse tema com a seriedade que ele merece. Mas ainda existem resistências. Parte do mercado reluta em deixar para trás narrativas antigas que romantizam a bebida como sinônimo de descontração e pertencimento. O desafio, daqui para frente, é criar novas referências: mostrar que celebrar também pode significar cuidar, que relaxar pode vir da consciência, e que pertencimento pode ser sinônimo de clareza, não de intoxicação.
O esporte já nos ensinou que disciplina, consistência e foco trazem resultados. Agora, ele nos lembra que saúde e performance caminham lado a lado. Para quem constrói marcas, produtos e experiências nesse universo, a mensagem é clara: o futuro não está no copo cheio. Está na mente leve, no corpo bem tratado e na consciência ativa de quem escolheu ir mais longe.
Por Eduardo Andrade
Cofundador da ETAPP, primeira marca de cerveja artesanal sem álcool com DNA 100% esportivo, parceira de grandes eventos como IRONMAN e SP City Marathon
Artigo de opinião