Orgasmo Feminino: Entre a Pressão das Redes e a Realidade dos Consultórios

Apesar do aumento da visibilidade do prazer nas redes sociais, muitas mulheres ainda enfrentam dificuldades para alcançar o orgasmo e lidar com a ansiedade gerada por cobranças sociais.

O Dia do Orgasmo, celebrado em 31 de julho, costuma movimentar as buscas na internet e gerar uma enxurrada de conteúdos sobre prazer nas redes sociais. No entanto, longe dos holofotes digitais, a realidade nos consultórios ainda é marcada por silêncios e dificuldades, especialmente entre as mulheres.

Dados do Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (ProSex) revelam que 55,6% das brasileiras têm dificuldade para atingir o orgasmo durante as relações sexuais. O levantamento, um dos mais respeitados do país, aponta também que a falta de informação adequada ainda é um fator determinante para a insatisfação sexual.

“Nos últimos anos, o orgasmo virou símbolo de empoderamento nas redes, mas também se transformou em mais um espaço de cobrança. Muitas mulheres se sentem pressionadas a viver o prazer como obrigação, o que acaba gerando frustração e ansiedade de desempenho”, explica a terapeuta sexual Talita Gois, que atua há mais de dez anos com educação sexual e já impactou mais de 90 mil mulheres em cursos sobre prazer e bem-estar.

Para Talita, um dos principais desafios atuais é a ideia de que o orgasmo deve acontecer sempre, rapidamente e de maneira intensa, uma expectativa influenciada tanto por pornografia quanto pela performance das redes sociais. “O orgasmo é um direito, mas não pode ser tratado como uma obrigação. Ele envolve corpo, mente, histórico afetivo e autoconhecimento. Quando é reduzido a uma meta, muitas mulheres acabam se desconectando do prazer real”, afirma.

Nos atendimentos clínicos e nos cursos, Talita aponta alguns padrões recorrentes:
– Fingimento do orgasmo, ainda comum como resposta à expectativa do parceiro;
– Busca por soluções rápidas, como brinquedos sexuais, sem resolver bloqueios emocionais;
– Vergonha em conversar sobre o próprio prazer, especialmente em relacionamentos longos.

Além do impacto emocional, a dificuldade de alcançar prazer também é um indicativo de que outras áreas da vida podem estar em desequilíbrio. “O orgasmo é um termômetro da qualidade das nossas relações e do quanto estamos conectadas ao nosso corpo. Quando ele é difícil ou inexistente, vale a pena investigar, sem culpa nem autocrítica”, orienta Talita.

No Dia do Orgasmo, a terapeuta sexual reforça que o foco deve estar no prazer com consciência e liberdade, sem comparações ou cobranças. “O prazer é uma construção pessoal. A melhor forma de celebrá-lo é com respeito aos próprios tempos e desejos, não com a busca de um roteiro perfeito.”

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Por Talita Gois

psicanalista, sexóloga e especialista em sexualidade humana; criadora do maior programa de educação sexual para homens do Brasil; pós-graduação em sexualidade humana; iniciará mestrado pela UNINQ; terapeuta sexual com mais de dez anos de atuação.

Artigo de opinião

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