Investir para os netos: um legado financeiro que une afeto e educação
Como os avós podem transformar presentes em oportunidades de aprendizado e segurança para as futuras gerações
Presentear os netos com algo que cresça com o tempo e ajude a construir um futuro financeiro mais seguro tem se tornado uma escolha cada vez mais comum entre avós brasileiros. Em vez de brinquedos ou roupas, muitos têm optado por iniciar investimentos em nome dos netos — uma atitude que une afeto, planejamento e educação financeira. Mas surge uma dúvida recorrente: o melhor é aplicar no CPF do avô ou no do neto?
A sabedoria dos avós nos investimentos para netos
Os avôs e avós viveram períodos marcados por inflação elevada e instabilidade econômica no Brasil, o que lhes proporcionou uma sabedoria única sobre como cuidar do dinheiro. Essa vivência é um verdadeiro patrimônio que pode e deve ser compartilhado entre gerações. Além disso, é justamente essa experiência que os torna figuras fundamentais na formação financeira dos netos.
A contribuição financeira dos avós é valiosa, mas a transferência de conhecimento, valores e hábitos saudáveis de consumo é, sem dúvida, a herança mais transformadora. Dessa forma, os investimentos para netos tornam-se mais do que uma reserva de capital: são um instrumento de educação e conscientização.
A pesquisa da ANBIMA de 2024 reforça essa realidade. Embora um terço da população (33%) tenha conseguido poupar, menos da metade desses poupadores (39%) aplicou os recursos em produtos de investimento. Consequentemente, milhões de brasileiros mantêm sua reserva parada na conta-corrente ou até mesmo em dinheiro físico, perdendo poder de compra com o tempo.
No entanto, os desafios da educação financeira vão além da falta de informação. De acordo com pesquisa Fenaprevi-Datafolha (2024), a preferência pelo consumo imediato entre jovens de 25 a 44 anos dificulta a formação de uma reserva financeira sólida.
Assim sendo, a atuação dos avós como educadores financeiros informais pode ser decisiva. Ao estimular a prática do investimento desde cedo, eles não apenas contribuem financeiramente, mas ajudam a quebrar o ciclo da vulnerabilidade econômica. Trata-se de preparar os netos para tomarem decisões conscientes e autônomas — mais do que doar dinheiro, é ensinar a multiplicá-lo.
A escolha crucial: Investir no CPF do Avô ou do Neto?
Ao decidir realizar investimentos para netos, uma das primeiras dúvidas que surge é: o valor deve ser aplicado no CPF do avô ou no CPF do neto? Essa decisão é essencial, pois impacta diretamente o controle sobre os recursos, a flexibilidade para movimentá-los e, principalmente, a forma como serão tributados no futuro. Não existe uma resposta única ou definitiva, já que a escolha mais vantajosa depende dos objetivos da família, da idade do neto, do perfil do investidor e até da estrutura familiar.
Opção 1: Investir no CPF do Avô
Investir no CPF do avô pode ser uma alternativa interessante quando se busca maior controle e flexibilidade. Nesse caso, o avô permanece com total autonomia sobre os valores aplicados, podendo movimentar os recursos, ajustar os ativos conforme o comportamento do mercado e até resgatar os valores, se necessário, sem enfrentar burocracia adicional.
Além disso, essa flexibilidade permite planejar a melhor forma de transferir os valores no futuro, seja por doação em vida ou via herança, de acordo com as mudanças na vida familiar ou na legislação.
No entanto, esse modelo também apresenta desvantagens relevantes. Quando os recursos são efetivamente transferidos para o neto, incide o Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), cuja alíquota varia de estado para estado, podendo chegar a 8%. Além disso, os rendimentos desses investimentos são somados à renda total do avô na declaração do Imposto de Renda, o que pode elevar a carga tributária.
Outro ponto a considerar é que, nesse formato, o neto não tem acesso direto à evolução dos investimentos, o que reduz a oportunidade de aprendizado prático sobre finanças e construção de patrimônio.
Opção 2: Investir no CPF do Neto
Aplicar diretamente no CPF do neto oferece vantagens importantes. Quando a conta de investimentos é aberta em nome do menor, com a supervisão de um responsável legal, cria-se uma excelente oportunidade para a educação financeira desde cedo. Isso porque o jovem pode acompanhar, ainda que com ajuda, a rentabilidade dos ativos, entender o funcionamento do mercado e desenvolver senso de responsabilidade.
Além disso, se o neto não possuir outras fontes de renda significativas, os rendimentos podem ser isentos ou sofrer menor tributação de Imposto de Renda, especialmente em aplicações de longo prazo, que contam com alíquotas regressivas.
Outra vantagem é a ausência do ITCMD na transferência: como os ativos já estão no nome do neto, não há uma nova transmissão de propriedade, o que evita essa tributação no futuro.
No entanto, esse modelo também traz alguns desafios. A abertura da conta depende do responsável legal, geralmente os pais, o que pode exigir certa burocracia inicial, como a apresentação de documentos do menor e dos responsáveis. Além disso, se o neto for declarado como dependente na declaração do Imposto de Renda, seus rendimentos e bens deverão ser incluídos no informe do titular, o que pode aumentar a base de cálculo do imposto da família. É necessário fazer simulações e avaliar cuidadosamente esse impacto.
Por fim, o avô deixa de ter controle direto sobre os recursos, uma vez que a gestão da conta cabe ao responsável legal do menor até que ele atinja a maioridade.
Portanto, ao comparar as duas opções, é importante considerar não apenas os aspectos fiscais e operacionais, mas também o impacto educacional e o nível de autonomia desejado. Investir no CPF do avô oferece maior flexibilidade, mas pode gerar impostos futuros mais altos. Já investir no CPF do neto favorece o planejamento tributário e a educação financeira, embora exija maior articulação familiar. Em ambos os casos, o diálogo entre avós, pais e netos é fundamental para garantir que os objetivos estejam alinhados e que o presente se transforme, de fato, em um legado duradouro.
Como funciona a tributação atual e o que muda a partir de 2026
Compreender a forma como o Imposto de Renda incide sobre os rendimentos é essencial para quem faz investimentos para netos, especialmente quando se trata de aplicações de longo prazo. Afinal, o sistema tributário brasileiro possui detalhes que impactam diretamente o valor líquido resgatado no futuro.
Atualmente, a maioria dos investimentos de renda fixa, como CDBs, fundos de renda fixa e títulos do Tesouro Direto, segue a chamada tabela regressiva de Imposto de Renda (IR). Isso significa que, quanto maior o tempo de aplicação, menor será a alíquota de IR cobrada sobre os rendimentos no momento do resgate. Essa estrutura favorece o planejamento de longo prazo, muito comum em estratégias que visam o futuro financeiro de filhos e netos.
Dessa forma, manter o dinheiro investido por mais de dois anos reduz a carga tributária para o menor nível possível (15%), o que resulta em maior retorno líquido. Para quem busca construir patrimônio para as futuras gerações, como é o caso dos investimentos para netos, essa lógica representa uma vantagem estratégica.
Embora essa tributação esteja em discussão, com a Medida Provisória 1.303/2025, outros investimentos podem oferecer vantagens similares para investidores de longo prazo.
Estratégias de investimento inteligentes para o longo prazo
Garantir um futuro financeiro sólido para os netos exige escolhas estratégicas, especialmente quanto aos tipos de investimentos adotados. Nesse contexto, optar por produtos que combinem previsibilidade, proteção contra a inflação e potencial de crescimento é fundamental. Além disso, é essencial considerar o horizonte de longo prazo e o perfil da família investidora. Confira, a seguir, três investimentos mais recomendados para esse objetivo:
1) Tesouro Educa+
Lançado em agosto de 2023, o Tesouro Educa+ é um título público do Tesouro Direto voltado ao financiamento da educação de crianças e jovens. Ele funciona como um investimento de renda fixa de longo prazo, com rendimento atrelado ao IPCA (índice oficial de inflação) acrescido de uma taxa prefixada. Dessa forma, garante que o dinheiro investido preserve seu poder de compra ao longo dos anos, o que é especialmente importante em um país com histórico de inflação elevada.
O grande diferencial do Tesouro Educa+ é permitir o recebimento de uma renda mensal por cinco anos após a data de vencimento escolhida. Isso o torna ideal para cobrir mensalidades universitárias, cursos técnicos ou outros gastos educacionais. Assim, os avós que desejam investir para os netos com foco na formação acadêmica encontram no Educa+ uma opção segura, previsível e alinhada ao propósito.
2) Tesouro Renda+
O Tesouro Renda+ oferece vantagens muito semelhantes ao título anterior, como rendimentos corrigidos pela inflação e um período em que o valor investido e seus rendimentos são convertidos em pagamentos mensais ao investidor.
Entretanto, em vez de pagamentos por cinco anos — geralmente utilizados para cobrir mensalidades escolares
Por Thaisa Durso
educadora financeira da Rico
Artigo de opinião