A Verdade Sobre o Couro Vegano: Sustentabilidade ou Ilusão Verde?
Materiais sintéticos vendidos como ecológicos escondem impactos ambientais e baixa durabilidade, alerta consultora de imagem experiente
O uso crescente do chamado “couro ecológico” na indústria da moda tem sido promovido como alternativa sustentável ao couro de origem animal. No entanto, a nomenclatura esconde problemas relevantes relacionados à durabilidade, ao impacto ambiental e à desinformação do consumidor. Estamos falando de um material sintético, geralmente feito de PVC ou poliuretano, derivados do petróleo e de difícil reciclagem. Chamar isso de ecológico é enganar o público com uma maquiagem verde.
A crítica vai além do discurso. No trabalho de consultoria e manutenção de acervo, é comum observar o desgaste precoce de peças produzidas com esse tipo de material. Jaquetas, bolsas e sapatos com menos de dois anos já apresentam rachaduras, descascamento e uma textura pegajosa, impossível de recuperar. São resíduos têxteis que não têm conserto e acabam descartados no lixo comum.
A percepção de que o couro sintético seria mais sustentável do que o couro animal também é questionada por estudos do setor. Segundo a ONG World Wide Fund for Nature (WWF), materiais como o PVC e o PU (poliuretano) não se decompõem naturalmente e possuem baixo índice de reciclagem. Além disso, seu processo de fabricação envolve compostos químicos tóxicos e demanda uso intensivo de combustíveis fósseis.
A moda sustentável de verdade passa por outras práticas: comprar menos, priorizar peças duráveis, optar por materiais honestos e exigir transparência das marcas. Não se trata de trocar um produto por outro que simula o que não é.
Entre as alternativas mais promissoras ao couro tradicional, destacam-se o Piñatex, produzido a partir de fibras de abacaxi, o couro de maçã, derivado da indústria de sucos, e outros em fase de desenvolvimento, como os obtidos de cogumelo, cacto, uva, kombucha e borra de café. Tecidos naturais como algodão encerado, linho e lona também são opções viáveis, principalmente por assumirem sua natureza original.
O alerta é direcionado tanto ao consumidor quanto à indústria: as marcas precisam parar de usar termos como “eco-friendly” sem critério. Sustentabilidade não é aparência, é compromisso com o impacto ambiental e social do que se produz. E os profissionais da moda têm o dever de orientar o público com informação honesta.
Por Marcia Jorge
Stylist, figurinista e consultora de marca pessoal; psicóloga de formação; atua no setor desde 1998; experiência em figurinos para marcas como Avon, Coca-Cola e Grupo Boticário; ex-colunista de moda do Portal Terra; colaboradora de veículos de comunicação; aparições no programa “Mais Você”
Artigo de opinião