Trauma invisível: filhos que presenciam feminicídios enfrentam sequelas emocionais profundas
Especialistas alertam para os impactos psicológicos em crianças e mulheres diante do aumento dos feminicídios em São Paulo e no Brasil
O estado de São Paulo registrou, entre janeiro e maio de 2025, o maior número de feminicídios para um primeiro semestre desde o início da série histórica em 2015, com 29 casos confirmados. Em cerca de 20% dessas ocorrências, há testemunhas diretas, frequentemente filhos e filhas, que não apenas perdem suas mães, mas também presenciam cenas de extrema violência que deixam marcas emocionais profundas. Esses dados foram compartilhados por especialistas da DBT Brasil em material divulgado pela assessoria de imprensa.
A psicóloga Êdela Nicoletti, especialista em Terapia Comportamental Dialética (DBT) e em Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), destaca que o impacto desses crimes ultrapassa as vítimas diretas. “Notícias frequentes sobre feminicídios geram um sentimento de medo constante entre as mulheres, que passam a viver em estado de alerta, inseguras até em espaços que deveriam ser seguros, como a própria casa”, explica. Segundo ela, esse medo pode desencadear ansiedade, alterações no sono e dificuldade de concentração, afetando a saúde mental de mulheres que, mesmo não sendo vítimas diretas, se identificam com as histórias divulgadas.
Para as crianças e adolescentes que testemunham esses crimes, os efeitos são ainda mais devastadores. Êdela alerta que muitos desenvolvem traumas que comprometem o aprendizado, a confiança nas pessoas e a visão de mundo. “Sem tratamento psicológico adequado, essas feridas emocionais podem evoluir para depressão, ansiedade, automutilação e até pensamentos suicidas”, afirma.
O psicólogo Vinícius Dornelles, mestre em psicologia e também especialista da DBT Brasil, chama atenção para o peso da culpa e da solidão que acometem as testemunhas. “É muito comum a pessoa pensar que poderia ter evitado a tragédia. Essa culpa, somada à dor da perda, pode gerar isolamento, vergonha e dificuldade para retomar a rotina. Muitos acabam desenvolvendo sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, como hipervigilância, explosões de raiva ou até entorpecimento emocional”, relata.
Ambos os especialistas reforçam a importância do acolhimento psicológico imediato, especialmente para crianças, que necessitam de abordagens específicas. “Usamos linguagem lúdica, desenhos, histórias e brincadeiras, sempre respeitando o ritmo da criança. É preciso criar um ambiente seguro, sem obrigá-la a reviver detalhes traumáticos, para que consiga expressar o que sente e volte a confiar nos adultos e no mundo”, explica Vinícius. Além disso, o apoio familiar e comunitário é fundamental para a recuperação emocional.
O cenário alarmante dos feminicídios em São Paulo e no Brasil evidencia a necessidade urgente de políticas públicas e serviços especializados para amparar não só as vítimas diretas, mas também seus familiares, especialmente os filhos que carregam um trauma invisível e duradouro. A violência deixa marcas profundas que podem perdurar por toda a vida se não houver intervenção adequada.

Texto gerado a partir de informações da assessoria com ajuda da estagiárIA