A importância da empatia no atendimento: por que a tecnologia não pode substituir o humano
Equilibrar inteligência artificial e sensibilidade humana é essencial para fidelizar clientes e fortalecer a confiança nas marcas
A inteligência artificial vem assumindo papéis cada vez mais relevantes nas rotinas corporativas, da automação de tarefas à personalização de atendimentos. Mas o avanço tecnológico não elimina o papel humano, apenas o reposiciona. Bots respondem, mas não resolvem crises emocionais ou compreendem o contexto. A escuta ativa, por exemplo, não pode ser automatizada. Ela é um elo de confiança, e isso ainda é tarefa para humanos.
Dados mostram que 73% dos consumidores brasileiros afirmam que a experiência de atendimento é tão importante quanto o produto ou preço. Um levantamento global indica que 78% dos clientes abandonam uma marca após apenas uma experiência negativa. Ainda assim, 62% das empresas brasileiras tratam o atendimento como um centro de custo, não como ferramenta estratégica de fidelização e diferenciação.
Essa contradição compromete o potencial de inovação. É incoerente investir em branding e tecnologia se o canal de contato com o cliente é negligenciado. Atendimento é onde a marca se materializa. É ali que a promessa se encontra com a realidade.
A tecnologia pode ser utilizada para roteirizar atendimentos com base em perfil e comportamento, mas é fundamental garantir presença humana em momentos críticos da jornada. O objetivo é liberar o potencial humano, não substituí-lo. A verdadeira transformação digital não é sobre substituir pessoas por robôs, mas sobre liberar o potencial humano para atuar onde ele é insubstituível: na empatia, no pensamento crítico e na construção de vínculos. A inteligência artificial pode ser o motor, mas a conexão ainda precisa de coração.
A retomada gradual da confiança do consumidor é um dos principais motores da recuperação econômica. O ambiente favorece empresas que investem em relações duradouras com o cliente, algo que exige mais do que algoritmos bem treinados.
Apesar dos avanços tecnológicos, muitas organizações ainda têm dificuldade em integrar ferramentas de automação com uma real compreensão das necessidades emocionais dos consumidores. Clientes que têm interações emocionalmente positivas com uma marca têm três vezes mais chances de recomendar o serviço e repetir a compra.
Outro fator importante é o impacto que a ausência de contato humano causa na reputação das empresas. Companhias que mantêm canais híbridos, mesclando automação com atendimento humano qualificado, registram até 25% mais fidelização em comparação com empresas que operam exclusivamente com chatbots ou URAs.
Embora a eficiência operacional seja importante, ela precisa estar acompanhada de sensibilidade. Empresas não são feitas de processos apenas. São feitas de histórias, conflitos e pessoas que querem ser compreendidas. É isso que sustenta uma marca ao longo do tempo.
Esse entendimento tem levado organizações a repensar seus investimentos em tecnologia de atendimento. Em vez de buscar a substituição completa do humano, cresce o interesse por soluções que ampliem a capacidade dos profissionais de atuar com inteligência emocional. A tecnologia coleta, analisa e propõe. Mas quem interpreta e transforma isso em experiência é quem escuta com intenção. E isso ainda é papel nosso.
Por João Paulo Ribeiro
Bacharel em Direito pela Universidade Ibirapuera, MBAs em Administração e Gestão de Negócios (FIA), Negócios Internacionais (Stanford University) e CEO Program (FGV); CEO do Grupo Inove; especialista em atendimento, liderança e cultura organizacional centrada no cliente
Artigo de opinião