Diversidade Cognitiva: O Caminho para a Inclusão e Inovação nas Empresas

Como a valorização de diferentes formas de pensar pode transformar culturas corporativas e impulsionar resultados financeiros

A diversidade cognitiva começa a ganhar espaço nas discussões corporativas, mas o avanço ainda é tímido e muitas vezes limitado, com ações pontuais. Iniciativas como oferecer fones antirruído ou adotar horários flexíveis são importantes, mas se tornam insuficientes quando não integram uma transformação cultural mais ampla. Na prática, isso leva à exclusão silenciosa de profissionais neurodivergentes, justamente aqueles com potencial para gerar inovação, elevar a performance e propor novas soluções.

A urgência de mudança é evidente nos dados. De acordo com uma pesquisa da McKinsey, cerca de 20% da população mundial apresenta traços neurodivergentes, como autismo, TDAH, dislexia e dispraxia. Ainda assim, 80% dessas pessoas estão desempregadas ou subempregadas, mesmo com ensino superior completo. Para muitos, o estigma pesa mais do que a qualificação: metade prefere não revelar sua condição no ambiente de trabalho, segundo o Dr. Lawrence Fung, da Universidade de Stanford. E a diversidade cognitiva não está restrita às posições iniciais. Segundo um levantamento realizado por uma consultoria internacional em 2022, até 25% dos CEOs acreditam ser disléxicos.

Exemplos como JetBlue, IKEA e Virgin Group, todas fundadas por líderes com TDAH, mostram como a neurodivergência pode estar no centro de culturas inovadoras e modelos de negócio bem-sucedidos. E os dados reforçam esse potencial. Outro estudo já apontou que equipes neurodiversas têm 2,5 vezes mais fluxo de caixa por colaborador. Além disso, empresas com times neurodiversos apresentam 28% mais receita, 30% mais margem de lucro e quase o dobro de lucro líquido em relação aos concorrentes.

Para Rodrigo Vianna, CEO da Mappit, empresa do Talenses Group especializada em diversidade e recrutamento de talentos em início de carreira, o principal obstáculo à inclusão efetiva não é a falta de intenção, mas a rigidez dos modelos corporativos tradicionais, ainda centrados no conceito de “fit cultural” e na expectativa de adaptação unilateral. “A maioria das empresas ainda tenta encaixar esses profissionais em estruturas pensadas para um único padrão de comportamento. Só que precisamos adaptar o ambiente para colhermos o máximo dessa pluralidade cognitiva. Isso não se faz com protocolos, e sim revisando como recrutamos, gerimos e nos comunicamos. Empresas que entendem isso, saem na frente não só em diversidade, mas em capacidade de inovação e resposta a cenários complexos.”, afirma.

Na prática, trata-se de revisar processos seletivos, deixar expectativas explícitas, oferecer avisos prévios para entrevistas e manter diálogos abertos sobre estilos de trabalho. Superar as barreiras do chamado Hidden Curriculum, esse “código oculto” de regras sociais implícitas do ambiente corporativo, é fundamental para garantir permanência e desenvolvimento desses talentos. Casos como nas empresas SAP e Hewlett-Packard Enterprise mostram que resultados concretos surgem quando há espaço para a diferença. Na alemã SAP, o programa Autism at Work revelou profissionais altamente qualificados que vinham sendo descartados por processos seletivos tradicionais. Na HPE, uma equipe neurodiversa contribuiu para reestruturar o processo de lançamento de projetos de um cliente, a partir de perguntas que só surgiram justamente por enxergarem o caos de forma diferente.

Quando há curiosidade genuína sobre outras formas de pensar, a inovação deixa de ser promessa e se torna prática. Incluir a neurodivergência não é apenas uma questão de equidade. É uma estratégia inteligente para empresas que querem evoluir.

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Por Jamila Araujo

Artigo de opinião

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