“Bruxas”: um olhar psicanalítico sobre a saúde mental pós-parto e o imaginário feminino

O documentário “Bruxas” revela a conexão entre a marginalização histórica das mulheres e os desafios emocionais após o nascimento dos filhos, desafiando tabus e ressignificando o poder feminino.

O documentário “Bruxas”, de Elizabeth Sankey, expõe as conexões entre saúde mental pós-parto e representações tradicionais de feiticeiras registradas na cultura popular. Destacam-se cenas extraídas de filmes consagrados e imagens icônicas permeadas pelos depoimentos contundentes de mulheres que precisaram de tratamento psiquiátrico e psicológico após o nascimento dos filhos.

Depressão e psicose puerperal são tabus pouco retratados em obras cinematográficas ou literárias. Os sofrimentos das recém-mães são envoltos em interdições e silenciamento. A maternidade como ápice da experiência de ser mulher é mais um mito questionado com crueza por Elizabeth Sankey a partir de vivências pessoais e dolorosas após dar à luz. A associação da própria história com a da bruxaria no imaginário ocidental cria uma narrativa íntima e universal a um só tempo. Um problema atual ilumina o passado e lança luz sobre o presente.

“Bruxas” tem uma concepção estética atraente, de beleza extraordinária e cenários evocativos do macabro, favoráveis à expressão dos estados emocionais das depoentes. Observa-se a sororidade entre mulheres em oposição à forma como a sociedade as enxerga. Loucas, fora do controle e marginais, bruxas adquirem voz no desenrolar da trama, que narra desde a opressão ao longo da história até o reconhecimento de estados mentais que precisam de tratamento.

Todas as escolas psicanalíticas trataram do tema mãe/bebê das mais diversas formas. A maternidade é um campo altamente explorado pela psicanálise que, em geral, se manifesta ao desconstruir mitos e validar sofrimentos abafados. Já a fraternidade é um campo menos investigado pelos psicanalistas, mas nem por isso menos importante, como o documentário “Bruxas” atesta.

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Por Luciana Saddi

psicanalista, escritora, membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), mestre em psicologia pela PUC-SP, diretora de cultura e comunidade da SBPSP (2017-2020), autora de livros, fundadora do Grupo Corpo e Cultura, coordenadora do Programa de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da SBPSP em parceria com o MIS e a Folha de S.Paulo

Artigo de opinião

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