Climatização hospitalar: um desafio urgente para a saúde pública no Brasil

Falhas nos sistemas de climatização agravam quadros clínicos, prolongam internações e colocam em risco pacientes e profissionais de saúde

A crise no sistema de climatização do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), denunciada por mães de recém-nascidos que relataram calor extremo e falta de ventilação nas enfermarias, reacendeu o debate sobre a climatização hospitalar como fator crítico na recuperação de pacientes.

Casos como esse escancaram os riscos à saúde causados por estruturas ineficientes, que descumprem normas técnicas e negligenciam a manutenção preventiva. “A climatização adequada não é luxo em um hospital, é requisito básico para evitar a proliferação de microrganismos e oferecer condições mínimas de recuperação aos pacientes”, afirma Patrick Galletti, CEO do Grupo RETEC e especialista em climatização. Segundo ele, a ausência de ventilação, controle de temperatura e filtragem eficiente transforma corredores e enfermarias em potenciais vetores de doenças.

A legislação brasileira impõe parâmetros rigorosos. A Lei nº 13.589/2018 obriga hospitais a adotarem um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) para garantir a qualidade do ar interno. A norma da ABNT 7256 reforça os critérios técnicos para climatização em ambientes hospitalares, incluindo exigências de filtragem HEPA, renovação de ar e controle da umidade. Na prática, porém, essas diretrizes ainda são mal implementadas em parte significativa das unidades públicas.

Estudo da Revista Eletrônica de Enfermagem aponta que sistemas sem manutenção adequada favorecem a disseminação de bactérias e vírus. O problema é ainda mais grave em ambientes com pacientes imunodeprimidos, como UTIs, salas cirúrgicas e unidades neonatais. “O impacto direto é o prolongamento das internações e o agravamento de quadros clínicos que poderiam ser controlados em ambientes seguros”, reforça Galletti.

O desconforto térmico também afeta os profissionais da saúde. Relatos de quedas de pressão, fadiga e até desmaios em ambientes hospitalares sem climatização adequada já foram registrados, comprometendo o atendimento e a segurança dos pacientes. Diante dos riscos, soluções tecnológicas já disponíveis poderiam reverter o quadro.

Filtros HEPA, sensores de qualidade do ar e sistemas automatizados de climatização são utilizados em hospitais de referência e permitem controle rigoroso sobre temperatura, umidade e pureza do ar. “O investimento em tecnologias inteligentes reduz o risco de infecções cruzadas e melhora o bem-estar dos pacientes e profissionais”, destaca o especialista.

A negligência, por outro lado, gera consequências legais. A Lei nº 6.437/1977 prevê sanções para infrações sanitárias relacionadas à má qualidade do ar em ambientes fechados. Hospitais que ignoram o PMOC e a manutenção dos sistemas de climatização podem ser multados ou até interditados, além de responder por responsabilidade civil em caso de danos à saúde dos pacientes.

A pressão por mudanças aumenta em um contexto de extremos climáticos, com temperaturas recordes em várias regiões do país. “Não basta instalar ar-condicionado. É preciso adotar uma política de manutenção contínua, com monitoramento ambiental, troca regular de filtros e profissionais capacitados”, conclui o executivo da RETEC.

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Por Carolina Lara

Artigo de opinião

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