Rituais Afro-Brasileiros: Uma Nova Perspectiva para a Prosperidade além do Discurso Motivacional

Enquanto fórmulas rápidas perdem força, práticas ancestrais oferecem direção espiritual e ética para o verdadeiro caminho da abundância

Enquanto promessas de enriquecimento rápido ganham espaço nas redes sociais e no mercado de desenvolvimento pessoal, as tradições afro-brasileiras chamam atenção por oferecer caminhos de prosperidade baseados em responsabilidade, ética energética e direção espiritual.

A crescente procura por rituais como o ebó e consultas ao jogo de búzios revela um público cansado da venda de fórmulas genéricas e que busca, na espiritualidade, orientações mais profundas para lidar com a vida e alcançar seus objetivos financeiros. Diferente do discurso motivacional que atribui o sucesso exclusivamente à força de vontade individual, as religiões de matriz africana compreendem a abundância como resultado de uma combinação de fatores espirituais, emocionais e sociais. 

Nesse contexto, Exu, o orixá do movimento, da comunicação e das trocas, ocupa papel central, pois rege o fluxo do dar e receber, abre caminhos, desata nós e revela os bloqueios que impedem o avanço material. “Na espiritualidade, dinheiro não é tabu nem pecado, mas também não é tratado como milagre. Prosperidade, dentro dessa lógica, depende da limpeza do caminho, da coerência com aquilo que se pede e da disposição para sustentar o que se deseja”, afirma Eduardo Elesu, sacerdote de Esù.

A principal diferença entre a abordagem espiritual afro-brasileira e o discurso tradicional dos coaches está no ponto de partida: enquanto o mercado do desenvolvimento pessoal foca no desejo imediato, no Candomblé é preciso, antes de tudo, compreender por que aquilo que se quer ainda não se manifestou. O jogo de búzios, principal oráculo da tradição, por exemplo, aponta bloqueios, identifica as energias que precisam ser movimentadas e mostra o que precisa ser fortalecido ou afastado. 

A partir dessas direções, são indicados rituais que podem incluir banhos, oferendas e, principalmente, o ebó. “O ebó não atrai dinheiro por mágica, ele remove o que impede o fluxo, reposiciona espiritualmente a pessoa e permite que o caminho da abundância volte a se abrir”, explica o sacerdote.

A prática, vista como uma reorganização integral da vida, costuma ser procurada por quem se sente estagnado, enfrenta perdas frequentes ou percebe desequilíbrio no campo financeiro ou profissional. Mas, além dos resultados individuais, a noção de prosperidade dentro das tradições afro-brasileiras está sempre vinculada à coletividade. Riqueza sem ética, retenção sem partilha e crescimento à custa do outro não se sustentam espiritualmente. “O dinheiro precisa circular e precisa circular com propósito”, ressalta Elesu.

A crítica ao mercado do autoconhecimento também aparece nesse contexto, sobretudo quando esse mercado banaliza rituais, apropria-se de símbolos afro e transforma fundamentos religiosos em produtos comerciais. Para líderes espirituais dessas tradições, esse tipo de esvaziamento cultural desrespeita o legado ancestral e distorce a função dos rituais. Ainda assim, na contramão do movimento, acontece o crescimento da busca por orientação espiritual que aponta para uma demanda crescente do sentido real no caminho da abundância.

Guiada por Exu, a espiritualidade afro-brasileira propõe um modelo onde prosperar não é apenas acumular, mas manter o movimento, respeitar as trocas e viver em coerência com os próprios pedidos. Nesse caminho, não há atalhos, mas há direção, fundamento e transformação.

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Por Eduardo Elesu

sacerdote de Esù, dirigente do Ilê Odé Nlá Axé Alagbará, iniciado em nome de Oxóssi, consagrado como Elesu, líder de seu próprio Ilê, reconhecido pela precisão nos Jogos de Búzios, rituais de Ebó, encantamentos e processos iniciáticos

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