Apneia do Sono e a Influência da Estrutura Facial na Saúde Respiratória

Como alterações anatômicas do rosto podem comprometer o sono e impactar a qualidade de vida

Acordar cansado, mesmo depois de horas na cama, não é normal. Tampouco é apenas o estresse ou a correria do dia a dia que causam dores de cabeça matinais, lapsos de memória ou sonolência constante. Em muitos casos, esses sintomas têm uma origem silenciosa e estrutural: a apneia obstrutiva do sono.

Mais comum do que se imagina, a condição afeta diretamente a qualidade de vida de milhões de brasileiros e pode ter ligação direta com a anatomia do rosto. Para a cirurgiã bucomaxilofacial Juliana Chramosta, entender essa relação é essencial para garantir noites mais tranquilas e dias mais saudáveis.

Durante anos, atendi pacientes que se queixavam de cansaço persistente, dores de cabeça ao acordar e sonolência ao longo do dia, sintomas que, muitas vezes, são confundidos com estresse ou insônia leve, mas, ao aprofundarmos a investigação clínica, a causa costuma ser silenciosa, crônica e mais comum do que se imagina: a apneia obstrutiva do sono.

A condição, que atinge milhões de brasileiros, é caracterizada por interrupções repetidas da respiração enquanto dormimos. O ar para de passar temporariamente pelas vias respiratórias, o cérebro identifica a falta de oxigênio e “acorda” o corpo para restabelecer o fluxo. Esse ciclo se repete dezenas, às vezes centenas, de vezes por noite, comprometendo a qualidade do sono e, consequentemente, da vida.

O que poucos sabem é que, em muitos casos, a origem do problema não está apenas nos hábitos ou no sobrepeso, mas na estrutura facial do paciente. Maxilas retraídas, mandíbulas posicionadas incorretamente ou até mesmo alterações no desenvolvimento ósseo da face podem causar o estreitamento das vias aéreas superiores, favorecendo os colapsos durante o sono.

Como cirurgiã bucomaxilofacial, tenho acompanhado de perto a relação entre a anatomia facial e os distúrbios respiratórios noturnos. Há mais de duas décadas, atuo na correção de assimetrias ósseas e disfunções mandibulares que, além de impactarem a estética, afetam diretamente a funcionalidade, inclusive a respiração. Em muitos desses casos, procedimentos reconstrutivos ou de avanço maxilomandibular são indicados não apenas por questões estéticas, mas como parte do tratamento da apneia do sono.

A boa notícia é que o diagnóstico tem evoluído. Hoje, contamos com exames precisos e multidisciplinares, que incluem polissonografia, tomografias faciais e avaliações clínicas integradas com otorrinolaringologistas, pneumologistas e fisioterapeutas do sono. Esse olhar conjunto é fundamental para indicar a melhor abordagem, que pode ir desde o uso de aparelhos intraorais e mudanças posturais até intervenções cirúrgicas complexas que, quando bem indicadas, têm altíssimos índices de sucesso.

Na minha prática, não existe separação entre função e estética. Um rosto saudável precisa ser harmônico em todos os sentidos: na mastigação, na fala, na respiração e, claro, no descanso. A apneia do sono não é apenas um distúrbio que rouba noites tranquilas, é um fator de risco para hipertensão, diabetes, arritmias cardíacas e comprometimentos neurológicos. Por isso, tratá-la com seriedade, ciência e empatia é um compromisso que vai muito além da cirurgia.

Dormir bem é vital, respirar com liberdade, também. E quando a estrutura facial é o obstáculo, é nosso dever como especialistas, oferecer o caminho técnico e humano para que cada paciente reencontre o seu próprio ritmo de vida.

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Por Juliana Moreira Chramosta

cirurgiã bucomaxilofacial, especialista em implantodontia, formada pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), residência em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial no Hospital Municipal Dr Mario Gatti, Campinas-SP, mais de duas décadas de experiência, atua no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, professora no Instituto Odontológico das Américas (IOA), líder de clínica em Campo Grande

Artigo de opinião

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