Ataques em Escolas e Neuropsicologia: Compreendendo a Mente por Trás da Violência
Como a neuropsicologia pode ajudar a identificar sinais de risco e prevenir tragédias em ambientes escolares
Por que alguém invade uma escola com uma faca nas mãos, disposto a atacar crianças? A neuropsicologia pode ajudar a entender os caminhos tortuosos que a mente humana percorre até chegar a um ato tão extremo.
O ataque registrado em Estação, no interior do Rio Grande do Sul, onde um adolescente feriu crianças com golpes de faca dentro de uma escola, reacende uma discussão urgente: o que leva alguém a cometer esse tipo de violência? A resposta, embora complexa, começa no cérebro — e é nesse território que a neuropsicologia mergulha em busca de explicações.
Como neuropsicóloga, meu papel é tentar lançar luz sobre o que, à primeira vista, parece apenas escuridão. Diante de atos violentos como ataques em escolas, é natural que a sociedade busque explicações. E a neuropsicologia entra justamente aí — não para justificar, mas para compreender os processos mentais e cerebrais que podem levar alguém a romper todos os limites éticos e emocionais.
Transtornos mentais ou alterações neurológicas podem estar por trás. Segundo estudos da American Academy of Psychiatry and the Law, distúrbios como psicopatia, transtorno de personalidade antissocial e esquizofrenia paranóide aparecem com frequência em perfis de autores de ataques em massa. Além disso, disfunções em áreas cerebrais específicas — como o córtex pré-frontal e o sistema límbico — estão associadas à impulsividade, dificuldade de julgamento moral e ausência de empatia.
A neuropsicologia não é uma resposta única nem uma solução mágica. Mas ela é uma ferramenta poderosa de prevenção. Avaliações neuropsicológicas podem ajudar a identificar alterações em funções como empatia e julgamento moral — e com isso, orientar intervenções antes que um ato extremo ocorra.
Hoje, muitas escolas e instituições de segurança já contam com protocolos de análise de risco que incluem exames neuropsicológicos. Eles avaliam funções como empatia, impulsividade, autorregulação e tomada de decisão, podendo identificar sujeitos com maior risco de desenvolver comportamentos violentos.
O que fazer diante disso? A neuropsicologia não é uma bola de cristal — mas ela oferece ferramentas que permitem investigar mais a fundo o que se passa na mente de pessoas que cruzam limites impensáveis. Após tragédias como a de Estação, a atuação de equipes interdisciplinares, que combinem segurança, saúde mental e educação, é urgente. Compreender não é suavizar o impacto de um ato bárbaro: é tentar impedir que ele se repita.
Por fim, é fundamental reforçar: compreender não é suavizar. É agir. É reunir ciência, saúde mental, educação e políticas públicas para que tragédias como esta não se repitam. A prevenção começa no cuidado, no olhar atento e no compromisso coletivo com a saúde emocional — desde a infância até a vida adulta.
Alguns comportamentos devem ser sinais de alerta para pais, professores e responsáveis, tais como:
– Impulsividade excessiva (agir sem pensar nas consequências);
– Dificuldade em seguir regras e instruções simples;
– Reações exageradas a frustrações;
– Falta de empatia ou de preocupação com os sentimentos dos outros;
– Explosões de raiva desproporcionais;
– Irritabilidade frequente;
– Incapacidade de “voltar ao normal” após conflitos pequenos;
– Hostilidade gratuita com colegas e professores;
– Desvalorização ou desprezo por normas sociais ou colegas;
– Fascínio por temas violentos, morte ou vingança.
Por Carolina Mattos
Psicóloga formada pela Universidade Paulista, pós-graduada em neuropsicologia infantil pelo Cepsic (Hospital das Clínicas), em psico oncologia pelo Hospital AC Camargo, e em oncologia pediátrica pelo GRAACC; especialista no tratamento de dependentes químicos, analista comportamental e terapeuta integrativa
Artigo de opinião