A importância de manter os idosos ativos no Brasil que envelhece rapidamente
Exercícios físicos e socialização são essenciais para garantir qualidade de vida e autonomia na terceira idade
O Brasil está envelhecendo de forma acelerada, caminhando para se tornar uma das nações com maior proporção de idosos no mundo. Em 2000, apenas 8,7% da população tinha 60 anos ou mais. Em 2023, esse número já alcançava 15,6%, e a projeção do IBGE indica que em 2070 mais de um terço dos brasileiros (37,8%) estará na terceira idade. Diante dessa transformação demográfica, especialistas em saúde pública e envelhecimento alertam para a urgência de políticas que priorizem a prevenção. O foco não é apenas viver mais, mas ter qualidade de vida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a prática regular de exercícios físicos é essencial para a saúde na terceira idade. Atividades físicas ajudam a controlar a hipertensão, reduzem o risco de doenças cardiovasculares como aterosclerose e arteriosclerose, além de diminuírem significativamente a incidência de AVC. Idosos ativos também apresentam melhores índices de aptidão cardiorrespiratória e muscular, o que se traduz em mais autonomia e menor risco de quedas e hospitalizações. O desafio não é apenas físico, é também social e cultural.
A socialização tem um papel muito importante na saúde do idoso e no processo de envelhecimento. Estudos mostram que o convívio social ajuda na redução do estresse, proporciona sensação de pertencimento e diminui doenças cardiovasculares. Pesquisas chegam a comparar o impacto da solidão ao do tabagismo em termos de mortalidade. Um estudo da Universidade Harvard, que acompanhou homens por mais de 80 anos, verificou que relações sociais sólidas são um dos fatores mais poderosos para garantir bem-estar na velhice.
Não basta apenas incentivar a prática de exercícios; é fundamental que ela seja realizada de forma personalizada, respeitando a rotina e os valores de cada idoso. A orientação precisa ser cuidadosa: começar devagar, entender a história da pessoa, seus gostos e eventuais experiências negativas anteriores. Não adianta mandar um idoso sedentário direto para a musculação. O ideal é iniciar com caminhada leve, com prazer e vínculo, pois isso faz toda a diferença.
Envolver outras pessoas, como amigos e familiares, é parte essencial do processo. Encontrar amigas no pilates, na dança ou em bailes é um estímulo que ajuda a criar rotina, fortalece os laços e transforma o exercício em um momento de prazer, não de obrigação.
Além disso, é importante que políticas públicas considerem a dimensão social do envelhecimento. Países como a Inglaterra criaram até o Ministério da Solidão, evidenciando a importância da socialização. No Brasil, seria necessário investir em prevenção, criar espaços de convivência, garantir acesso a academias, estimular alimentação saudável e, principalmente, proporcionar tempo e condições para que as pessoas cuidem de si mesmas. É fundamental reconhecer que nem todos vivem o mesmo contexto social, e as políticas devem refletir essa diversidade.
Pessoas que trabalham em jornada dupla, cuidam dos filhos e têm pouco tempo para si dificilmente conseguirão se exercitar. Elas precisam de tempo, vínculos e condições para se alimentar bem e cuidar da saúde. Portanto, o desafio não é apenas individual, mas social. Ajustar essas condições é essencial para garantir um envelhecimento saudável da população, o que também reduz custos futuros com internações, complicações e cirurgias.
No dia a dia, pequenas decisões já fazem diferença: subir escadas, caminhar até o mercado ou limpar a casa contam como atividade física. Contudo, é o exercício regular, principalmente os de força, que garante a independência funcional. A musculação, por exemplo, aumenta a reserva muscular, permitindo que o idoso suba escadas, carregue compras e realize atividades básicas sozinho, preservando sua autonomia.
Além dos benefícios físicos, a prática regular de exercícios está associada à redução da demência e melhora da memória, impactando diretamente a saúde mental e a qualidade de vida.
Dicas para estimular a prática de atividade física entre idosos:
· Comece devagar: inicie com caminhadas leves ou alongamentos. O importante é criar o hábito, não a intensidade.
· Priorize o que dá prazer: dança, hidroginástica, ioga ou jardinagem. Qualquer atividade que motive é válida.
· Personalize a rotina: leve em conta a história, gostos, limitações e preferências do idoso.
· Inclua o fator social: convide amigos ou familiares para acompanhar. Vínculos reforçam o compromisso e o bem-estar.
· Integre a atividade ao dia a dia: subir escadas, varrer o quintal ou ir ao mercado a pé são formas eficazes de manter-se ativo.
· Oriente com cuidado: tipo de exercício, tempo e intensidade devem ser recomendados por um profissional, preferencialmente com experiência em geriatria.
· Evite comparações e pressões: cada corpo tem seu tempo. O objetivo não é performance, mas autonomia e saúde.
· Celebre os avanços: reconhecer conquistas ajuda na motivação e na autoestima.
· Mantenha a regularidade: mesmo que por poucos minutos, o movimento diário é mais eficaz do que grandes esforços esporádicos.
Por Juliana Antunes
Artigo de opinião