Quando a bondade em excesso se torna um problema para a saúde emocional
Psicóloga alerta para os riscos da “síndrome do bonzinho” e defende a prática da bondade inteligente, que alia empatia e firmeza
No mundo atual, onde valores como empatia e gentileza são amplamente promovidos, ser uma pessoa boa parece ser uma qualidade indiscutível. No entanto, segundo a psicóloga Aline Graffiette, CEO da Mental One Psicologia, o excesso de bondade pode se tornar um obstáculo para a própria saúde emocional e para a construção de relações equilibradas.
“Existe uma linha tênue entre ser uma pessoa gentil e se tornar vulnerável diante de um ambiente que nem sempre responde de forma justa”, afirma Aline. Segundo ela, a chamada “síndrome do bonzinho” transforma muitas pessoas em alvos fáceis para manipuladores ou para dinâmicas de abuso emocional, tanto no trabalho quanto na vida pessoal.
Inspirada por conceitos de Maquiavel e pela psicologia contemporânea, Aline explica que não se trata de incentivar posturas negativas, mas de desenvolver o que chama de “bondade inteligente” — uma postura que alia empatia a firmeza e que permite à pessoa manter o respeito dos outros e proteger seu próprio bem-estar.
“Quem tenta agradar a todos o tempo inteiro acaba sendo respeitado por ninguém. O respeito vem da coerência, da capacidade de estabelecer limites e de saber dizer ‘não’ quando necessário”, afirma.
Entre os sinais de que uma pessoa pode estar caindo na armadilha da bondade excessiva, a psicóloga destaca a dificuldade em impor limites, a sensação constante de esgotamento emocional, o desequilíbrio em relações onde se dá mais do que se recebe e a incapacidade de se posicionar diante de situações injustas.
De acordo com Aline, esses padrões são mais comuns em pessoas que foram educadas para priorizar sempre os outros, mesmo em detrimento de si mesmas. O resultado, muitas vezes, é o desgaste emocional e a frustração.
Para quebrar esse ciclo, a psicóloga sugere algumas mudanças de postura. A primeira é reconhecer que o mundo real não recompensa apenas boas intenções, mas atitudes assertivas. Também é importante cultivar uma imagem coerente, que una empatia e clareza na comunicação, e desenvolver a capacidade de analisar friamente as relações e as situações, para não cair em ingenuidade.
Por fim, a especialista reforça que é essencial saber dizer “não” de forma respeitosa e estabelecer limites de maneira segura. “Ser bom não significa se anular. Uma bondade madura é aquela que sabe ceder quando faz sentido, mas também sabe se impor quando necessário”, diz Aline.
Segundo ela, mais do que um gesto moral, esse equilíbrio é uma questão de saúde emocional e de autoconhecimento. “Ser firme quando a situação exige é fundamental para manter relações mais saudáveis e proteger a própria integridade emocional”, conclui.
Por Aline Graffiette
Psicóloga, CEO da Mental One Psicologia
Artigo de opinião