Avanços no Tratamento do HIV Transformam a Infecção em Doença Crônica e Melhoram a Qualidade de Vida
Com tratamentos modernos e acesso facilitado, o HIV deixa de ser uma sentença de morte e passa a ser controlado com eficácia, promovendo mais segurança e bem-estar aos pacientes
O diagnóstico de HIV era visto como uma sentença de morte no início dos anos 1980. Atualmente, o tratamento do vírus pode ser feito com poucos comprimidos e quase sem efeitos colaterais, transformando a infecção em uma condição crônica e controlável. Isso proporciona mais tranquilidade às pessoas que vivem com o vírus, desde que realizem acompanhamento médico adequado.
Hoje, o protocolo para tratar a infecção é simplificado, com poucos comprimidos diários. Pesquisas no Brasil e no exterior avançam em protocolos que promovem a cura funcional do HIV, permitindo o uso de antirretrovirais em intervalos mais espaçados, o que representa um grande avanço.
Nas décadas de 1980, 1990 e início dos anos 2000, o tratamento era difícil e limitado. A zidovudina (AZT) era a medicação mais acessível, mas causava efeitos adversos significativos, como lipodistrofia (mudança na distribuição de gordura corporal) e anemia por falta de ferro no sangue. Atualmente, essa medicação é pouco indicada devido a esses efeitos.
O cenário atual é muito diferente. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, já estão disponíveis injeções que controlam a infecção. A lenacapavir, aplicada a cada seis meses, é indicada para pacientes multirresistentes a drogas. Já a combinação injetável de cabotegravir e rilpivirine, com periodicidade de 60 dias, é indicada para pessoas com carga viral indetectável. Embora essas novidades ainda não estejam disponíveis no Brasil, elas demonstram a evolução do tratamento de uma doença antes considerada fatal.
No Brasil, o tratamento contra o HIV é um dos mais eficazes e de fácil acesso. Pessoas que tiveram relações sexuais desprotegidas ou que suspeitam de exposição ao vírus podem procurar atendimento para realizar o teste de HIV e iniciar a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). No estado de São Paulo, há mais de cinco mil unidades de saúde públicas que oferecem testagem, facilitando o diagnóstico precoce.
Outro aspecto importante é a mudança no comportamento dos pacientes. No início da minha carreira, em 2004, as pessoas infectadas chegavam assustadas ao consultório. Hoje, são mais bem informadas, participativas e ativas no tratamento. Querem saber, por exemplo, se podem tomar a medicação junto com suplementos de musculação ou se deixam de transmitir o vírus quando a carga viral está indetectável.
Apesar dos avanços, ainda é comum que pacientes neguem o diagnóstico por medo e vergonha, o que os impede de buscar acompanhamento médico e os expõe a riscos evitáveis. É fundamental lembrar que os sintomas do HIV podem demorar até dez anos para se manifestar, o que reforça a importância do teste regular.
A prevenção da infecção por HIV inclui o uso de preservativo nas relações sexuais, além da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e da Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que fazem parte das estratégias de prevenção combinada. Esses medicamentos são distribuídos gratuitamente na rede pública de saúde em São Paulo e em todo o país.
Neste 20 de maio, data em que o HIV foi descoberto, é essencial reforçar que a infecção pode ser encarada como uma doença crônica. Com tratamento adequado, medicação, acompanhamento médico e exames periódicos, os efeitos colaterais são raros e mínimos. Além disso, pacientes com infecção controlada não transmitem o vírus, o que traz mais segurança e tranquilidade para o aspecto emocional e social das pessoas que vivem com HIV.
Por isso, é fundamental usar preservativo, realizar testes com frequência e, diante de qualquer dúvida, procurar o serviço de saúde mais próximo. O avanço no tratamento do HIV é um marco na medicina e na qualidade de vida dos pacientes, transformando uma antiga sentença de morte em uma condição gerenciável e com perspectivas cada vez melhores.
Por Dra. Marlí Sasaki
médica infectologista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) há 20 anos; especialista do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids – SP
Artigo de opinião