Envelhecimento LGBT+: enfrentando o isolamento e promovendo saúde mental na terceira idade
Desafios do envelhecimento para a população LGBT+ revelam a urgência de redes de apoio inclusivas e cuidados especializados
Neste ano, a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo destacou uma questão urgente e ainda pouco debatida: o envelhecimento da população LGBT+. Sob o tema “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”, o evento trouxe à tona desafios como o etarismo e a discriminação persistente com base na orientação sexual e identidade de gênero, que impactam diretamente o bem-estar e a saúde mental dessa população.
Dados do estudo “Envelhecimento e Cuidado LGBT+”, realizado pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) em parceria com o Itaú Viver Mais, revelam um cenário preocupante: muitos idosos LGBT+ enfrentam solidão, fragilidade nos laços sociais, barreiras no acesso à saúde e condições financeiras precárias. A falta de vínculos com a família de origem, a ausência de filhos ou companheiros(as) afetivos(as) e o afastamento gradual dos espaços de convivência LGBT+ tornam essa fase da vida especialmente vulnerável, aponta o levantamento.
O impacto acumulado de uma vida marcada por exclusão, medo, estigmas e discriminação não desaparece com o tempo e se intensifica na velhice, justamente quando o suporte emocional e social se torna ainda mais necessário.
O estudo mostra que a solidão e a exclusão social são fatores que afetam diretamente a saúde mental dessas pessoas, podendo desencadear quadros de depressão, ansiedade, transtornos do sono e até risco de suicídio. É essencial garantir o acesso contínuo e respeitoso a serviços de saúde mental. Mas também precisamos pensar em estratégias de pertencimento, como centros de convivência inclusivos, atividades intergeracionais e grupos de escuta. Criar e fortalecer redes de cuidado é um passo fundamental para prevenir o adoecimento psíquico e emocional dessas pessoas.
O etarismo presente dentro da própria comunidade LGBT+ também merece atenção, pois ainda predomina a valorização da juventude e a exclusão das pessoas mais velhas dos espaços de socialização. Esse afastamento compromete diretamente a identidade e o senso de pertencimento dos idosos LGBT+. Precisamos valorizar suas histórias, trajetórias e memórias como pilares fundamentais da luta por direitos e visibilidade.
Nesse contexto, o cuidado e a prevenção devem envolver a criação de espaços seguros e inclusivos de convivência, pensados especialmente para o público idoso LGBT+, além da garantia de acesso contínuo a terapias e acompanhamento psicológico. Promover saúde mental é, também, oferecer pertencimento, escuta e vínculos sociais saudáveis.
Por Aline Silva
Psicóloga e head de gestão clínica da Telavita
Artigo de opinião