O Perigo da Desarmonização Facial: Quando o Excesso Apaga a Identidade

Reflexões sobre os riscos da estética desmedida e a importância do respeito à singularidade em procedimentos faciais

Não são raros os casos em que pacientes chegam ao consultório carregando mais do que marcas no rosto — chegam com arrependimentos, inseguranças e um sentimento de não se reconhecerem mais no espelho. O rosto, que deveria expressar sua essência, acabou se tornando um molde genérico, resultado de intervenções estéticas em excesso. Esse fenômeno, infelizmente cada vez mais comum, tem nome: desarmonização facial.

Ao contrário do que se propõe a estética facial responsável, a desarmonização surge quando o cuidado se transforma em exagero. É quando a busca por lábios mais volumosos, maçãs do rosto mais marcadas ou mandíbulas mais definidas ultrapassa o limite do bom senso, da técnica e singularidade de cada pessoa. O que começa como uma tentativa de melhorar um detalhe pode se tornar uma sucessão de procedimentos que distorcem traços naturais e tiram a leveza da expressão.

Esse cenário não nasce do nada. Somos impactados todos os dias por padrões irreais, filtros que apagam rugas e afinam narizes, imagens repetidas de um rosto ideal que, na prática, não existe. Muitos profissionais, por falta de formação específica ou por ceder à pressão do mercado, acabam aplicando técnicas sem critério, sem planejamento, sem escuta. E o resultado, em vez de beleza, é desfiguração, física e emocional.

A chamada “demonização facial”, termo popularizado para descrever rostos que perderam sua identidade devido ao excesso de procedimentos, é um reflexo direto desse desequilíbrio. Não se trata apenas de estética, mas de saúde, de respeito ao paciente e de ética profissional. Preenchimentos mal indicados, toxina botulínica aplicada sem análise adequada, fios em excesso: tudo isso pode gerar complicações como nódulos, assimetrias, inchaços crônicos e até necrose. Mas, além disso, pode destruir a autoestima de quem acreditou estar se cuidando.

Em mais de duas décadas de atuação, vi de perto as transformações positivas que a estética bem aplicada pode gerar, e não apenas no rosto, mas na vida das pessoas. Acredito profundamente na beleza que respeita a anatomia, o tempo e a história de cada um. Estética não deve servir para apagar quem somos, mas para revelar o que temos de mais verdadeiro.

Que a beleza continue sendo sinônimo de cuidado, autoestima e bem-estar, nunca de arrependimento!

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Por Juliana Moreira Chramosta

cirurgiã bucomaxilofacial, especialista em implantodontia, referência nacional em procedimentos estéticos e reconstrutivos, formada pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), com residência em Campinas (SP), mais de 20 anos de atuação, atua no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, professora no Instituto Odontológico das Américas (IOA), líder de clínica em Campo Grande

Artigo de opinião

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