Brasil registra mais de 700 milhões de ataques cibernéticos em um ano: o risco para startups e pequenas empresas

A vulnerabilidade digital não escolhe tamanho; proteção e conscientização são essenciais para evitar prejuízos irreparáveis

O Brasil registrou mais de 700 milhões de ataques cibernéticos entre agosto de 2023 e julho de 2024, o que equivale a 1.379 tentativas de invasão por minuto, colocando o país em segundo lugar no ranking mundial de cibercrimes, segundo o estudo Panorama de Ameaças Para a América Latina 2024, da Kaspersky. Além disso, o Relatório do Custo das Violações de Dados de 2024, da IBM, aponta que o custo médio de uma violação de dados no Brasil é de R$ 6,75 milhões. A falta de capacitação para lidar com a complexidade dos sistemas de segurança cibernética é um dos principais desafios nesse cenário.

Esses números assustadores reforçam a necessidade urgente de implementar medidas de segurança em todos os tipos de negócios, inclusive startups e pequenas empresas. A ideia de que cibersegurança é preocupação exclusiva das grandes corporações é um equívoco perigoso. A vulnerabilidade não está ligada ao tamanho do negócio, mas sim à fragilidade com que os dados podem ser acessados.

Startups e pequenas empresas costumam ter menor proteção e menos maturidade jurídica e técnica para reagir a ataques digitais, o que as torna mais vulneráveis. Além disso, podem servir como porta de entrada para redes maiores, como fornecedores ou parceiros. Entre os crimes mais comuns contra esses negócios estão o phishing — envio de e-mails ou mensagens falsas para roubar senhas e informações — e o ransomware, que sequestra dados mediante pedido de resgate.

Também são frequentes a invasão de servidores e vazamento de dados de clientes; ataques DDoS (Distributed Denial-of-Service) para derrubar sites e sistemas; e roubos de propriedade intelectual, como códigos-fonte, algoritmos e ideias. Fraudes internas, espionagem corporativa, difamação em massa nas redes sociais e ataques à reputação digital — por meio de avaliações falsas em plataformas como Reclame Aqui, Google ou App Store — costumam trazer prejuízos ainda maiores para quem não possui sistemas de proteção digital.

Na maioria das vezes, startups e pequenas empresas têm estruturas enxutas e focam no crescimento dos negócios. Contudo, a falta de proteção digital e jurídica pode acarretar graves problemas e até destruir a imagem da empresa em poucas horas.

Quando uma startup ou pequena empresa sofre um ataque cibernético, os riscos jurídicos são imediatos e severos. As consequências podem incluir responsabilidade civil por danos a titulares de dados, multas e sanções administrativas pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que podem chegar a 2% do faturamento anual da empresa, limitadas a R$ 50 milhões por infração. Além disso, há risco de perda de contratos, da confiança de investidores, processos judiciais individuais ou coletivos e eventuais responsabilidades penais.

Para construir uma defesa sólida contra crimes cibernéticos, startups e pequenas empresas devem adotar algumas práticas essenciais:

1. Ter uma política de segurança da informação clara e aplicada no dia a dia, desde o onboarding de novos colaboradores. Essa norma deve ser um guia prático, não apenas um documento esquecido.

2. Implementar autenticação em dois fatores (2FA) em todos os sistemas críticos. Essa camada extra dificulta o acesso não autorizado, mesmo que uma senha seja comprometida.

3. Realizar backups periódicos e armazená-los em locais seguros, preferencialmente offline ou em nuvem com criptografia, para garantir a recuperação de dados em caso de ataque ou outras perdas.

4. Educar e treinar continuamente os colaboradores sobre phishing, senhas seguras e boas práticas digitais. O fator humano é frequentemente o elo mais fraco da segurança cibernética, e a conscientização é a melhor defesa.

5. Revisar contratos com fornecedores e parceiros de TI, garantindo que eles também cumpram padrões de segurança. A vulnerabilidade de um elo na cadeia de fornecedores pode se tornar a vulnerabilidade da própria empresa.

A segurança digital não é mais um luxo ou uma preocupação exclusiva das grandes empresas. Startups e pequenas empresas precisam entender que investir em proteção é investir na sobrevivência e no crescimento sustentável do negócio. A conscientização, a prevenção e a adoção de boas práticas são os melhores caminhos para evitar prejuízos financeiros, jurídicos e reputacionais que podem ser irreparáveis.

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Por Alexandra Beck

Advogada, especialista em Direito Digital pela Universidade Anhembi Morumbi

Artigo de opinião

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