Como integrar a saúde mental na cultura organizacional: 5 passos essenciais

Estratégias práticas para transformar o ambiente de trabalho em um espaço de cuidado e bem-estar emocional

O Brasil enfrenta uma crise de saúde mental atrelada ao trabalho. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que, somente em 2024, foram registrados 472.328 afastamentos por transtornos mentais, representando o maior índice em uma década. O número representa um aumento de 68% em comparação ao ano anterior e um alerta sobre o impacto do adoecimento psíquico na força de trabalho.

Jornadas exaustivas, metas inatingíveis, comunicação falha e ausência de espaços seguros para diálogo têm contribuído para agravar os quadros de ansiedade, burnout e depressão. Nesse cenário, a integração da saúde mental à cultura organizacional passou a ser tema prioritário para o setor corporativo, que mesmo sabendo dessa importância, ainda encontra dificuldades para colocá-la em prática.

“Hoje, o bem-estar não pode ser tratado como uma pauta paralela ao negócio. Ele precisa estar no centro das decisões, influenciando em todos os rituais do dia a dia”, reforça Rui Brandão, Cofundador da Zenklub e VP de Saúde Mental da Conexa, maior ecossistema digital de saúde física e mental do Brasil.

O executivo aponta que empresas que desejam evoluir precisam repensar suas práticas e devem ir além de benefícios pontuais, sendo necessário transformar estruturas, relacionamentos e hábitos internos. Pensando nisso, Brandão indica cinco ações para incorporar a saúde mental à cultura da sua organização.

1. Cultura de escuta ativa
O primeiro passo para transformar a cultura organizacional é desenvolver ambientes seguros para que as pessoas possam se expressar. A escuta ativa deve ser incentivada em todos os níveis da empresa. Isso significa treinar colaboradores e líderes para ouvir com atenção, dar retornos construtivos e demonstrar empatia nas interações. “A escuta ativa não pode ser tratada como um ato passivo, mas como escolha intencional de cuidado que influencia diretamente a forma como as pessoas se sentem pertencentes e acolhidas”.

2. Estabeleça protocolos claros
Uma gestão eficiente dos riscos psicossociais requer planos de ação organizados e bem comunicados. Sem um protocolo claro, os colaboradores ficam desamparados e os líderes, desorientados sobre como agir. As ações podem ser pensadas, principalmente, em três frentes:
– Promoção da saúde (risco baixo): campanhas de letramento emocional, formação de brigadas de saúde mental e capacitação de lideranças.
– Prevenção (risco médio): acesso facilitado a psicólogos e terapeutas, com programas estruturados de saúde emocional.
– Mitigação (risco alto): assistência efetiva para casos graves, com psiquiatras de referência e plantões de crise.

3. Promova reuniões regulares
Ambientes incertos e desalinhados são gatilhos silenciosos de adoecimento. Reuniões regulares, sejam de time ou interdepartamentais, ajudam a esclarecer responsabilidades, reorganizar demandas e reduzir o estresse causado por expectativas desalinhadas. Essa prática fortalece a confiança e contribui para um clima organizacional mais saudável.

4. Treine líderes em escuta ativa e comunicação assertiva
Por estarem na linha de frente, os líderes são os principais vetores da cultura de bem-estar. Identificar mudanças de comportamento, acolher queixas e encaminhar para apoio especializado são responsabilidades que não podem ser terceirizadas apenas ao RH. Para isso, os líderes precisam ser capacitados em habilidades socioemocionais, especialmente escuta ativa e comunicação empática. “Uma liderança despreparada pode custar caro. Ignorar sinais hoje pode gerar crises profundas amanhã”, alerta Brandão.

5. Incentive conversas entre líderes e liderados
As interações 1:1 são fundamentais para mapear sinais precoces de sofrimento emocional. As conversas individuais, principalmente com os líderes, devem ser periódicas, com espaço para temas que vão além das metas profissionais, incluindo o bem-estar pessoal. “Não adianta criar um programa institucional se o líder não compra a causa. Ele precisa viver essa cultura no dia a dia e ser um canal ativo de escuta e orientação”, conclui o executivo da Conexa.

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Por Rui Brandão

Cofundador da Zenklub e VP de Saúde Mental da Conexa

Artigo de opinião

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