Diabetes não diagnosticado eleva risco de infarto e AVC no Brasil
A doença silenciosa aumenta a mortalidade cardiovascular e exige diagnóstico precoce e controle rigoroso para evitar complicações graves
As doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte no Brasil, representando cerca de 30% dos óbitos anuais, conforme dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia e do Ministério da Saúde. Embora tradicionalmente associadas à população idosa, infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) têm ocorrido cada vez mais cedo, impulsionados por fatores silenciosos como o diabetes tipo 2, que afeta aproximadamente 16 milhões de brasileiros, segundo o Atlas Mundial de Diabetes 2025.
Muitos pacientes só descobrem que têm diabetes após sofrerem um infarto ou AVC, pois a doença, quando mal controlada, acelera a formação de placas nas artérias e facilita a obstrução dos vasos. Dados da International Diabetes Federation indicam que até 80% das mortes entre pessoas com diabetes tipo 2 estão relacionadas a causas cardiovasculares. Esse risco aumenta ainda mais quando a glicemia elevada se associa a outros fatores, como hipertensão, colesterol alto e sobrepeso.
Um grande desafio é que muitos diabéticos não apresentam sintomas evidentes, mesmo em estágios avançados da doença. O diabetes pode afetar os nervos responsáveis pela sensação de dor, fazendo com que o paciente não sinta a dor típica do infarto no peito, mas apenas sintomas mais sutis como cansaço, suor excessivo ou náuseas. Essa ausência de sinais claros atrasa o diagnóstico e dificulta o tratamento eficaz.
A prevenção depende da identificação precoce da doença e do controle rigoroso da glicemia e dos fatores de risco associados. É fundamental manter uma rotina regular de exames, adotar hábitos de vida saudáveis e, quando indicado, utilizar medicamentos que não apenas controlam o açúcar no sangue, mas também protegem o sistema cardiovascular.
Atualmente, existem medicamentos com eficácia comprovada na redução do risco de infartos e AVCs em pacientes com diabetes tipo 2. O grande desafio é garantir o acesso a essas terapias, especialmente na rede pública, além de ampliar o conhecimento da população sobre a importância do diagnóstico e tratamento adequados.
O alerta é ainda mais urgente para os jovens, que têm sido diagnosticados com diabetes cada vez mais cedo, muitas vezes devido ao sedentarismo, má alimentação e excesso de peso. Estamos diante de uma geração com risco real de desenvolver problemas cardiovasculares antes dos 40 anos — algo impensável há poucas décadas. É imprescindível mudar esse cenário com urgência, pois níveis elevados e persistentes de glicose no sangue promovem danos que favorecem o desenvolvimento de hipertensão, doenças cardíacas e o acúmulo de placas nas artérias, estreitando-as e dificultando a circulação sanguínea. Quando combinados a outros fatores de risco, como obesidade e falta de atividade física, esses danos elevam significativamente o risco de infartos e AVCs.
A conscientização, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado do diabetes são passos essenciais para reduzir a mortalidade cardiovascular e melhorar a qualidade de vida dos milhões de brasileiros afetados por essa doença silenciosa.
Por Marcio Krakauer
Médico endocrinologista, fundador e presidente da ADIABC; cofundador e diretor médico executivo da health tech G7med
Artigo de opinião