Cientistas internacionais questionam a classificação NOVA e o uso do termo “ultraprocessado”

Carta aberta assinada por 170 especialistas de 20 países pede revisão da categorização dos alimentos e alerta para a falta de evidências científicas sólidas

Uma carta aberta assinada por cerca de 170 especialistas de 20 países, incluindo Brasil, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, reacendeu o debate sobre a classificação NOVA e o conceito de “alimentos ultraprocessados” (UPFs). O documento, elaborado por renomados cientistas alemães, questiona a validade científica dessa categorização, considerada por eles subjetiva, generalista e inconsistente.

Os autores da carta, a professora emérita Hannelore Daniel, da Universidade Técnica de Munique, e o professor Thomas Henle, da Universidade Técnica de Dresden, alertam para os riscos do uso indiscriminado do termo “ultraprocessado” como base para políticas públicas de saúde. Eles destacam que a ciência dos alimentos e da nutrição deve se basear em evidências objetivas e não em termos populares ou simplificações.

Segundo o manifesto, não há evidências robustas que comprovem que o consumo dos chamados ultraprocessados seja diretamente prejudicial à saúde ou que contribua de forma conclusiva para doenças como obesidade e diabetes. Os cientistas ressaltam que muitas associações apontadas em estudos observacionais são baseadas em interpretações populistas e, por vezes, sensacionalistas. “A ciência deve ser objetiva, neutra e verificável”, afirmam.

A carta também destaca que nenhuma sociedade científica relevante da Europa ou América do Norte adotou oficialmente o termo UPF em suas diretrizes alimentares, reforçando a necessidade de uma revisão urgente do sistema NOVA, que atualmente é amplamente considerado insuficientemente fundamentado para embasar avaliações de risco à saúde.

No Brasil, o manifesto já conta com o apoio de mais de 30 especialistas ligados a instituições como USP, Unicamp, ITAL e UFRJ. A nutricionista Sonia Tucunduva Phillip enfatiza que a nutrição deve evoluir baseada em evidências e não em modismos ou dogmas. Para o professor Julian Martinez, da Unicamp, o sistema NOVA carece de rigor científico e precisa ser aprimorado para evitar interpretações equivocadas.

Além disso, especialistas chamam atenção para o papel importante que alguns alimentos classificados como ultraprocessados desempenham em contextos de saúde pública, como os alimentos terapêuticos prontos para uso distribuídos pela UNICEF em regiões com desnutrição infantil grave. A nutricionista Márcia Terra ressalta que produtos como leite em pó e fórmulas infantis são essenciais em estratégias contra a desnutrição e não podem ser desconsiderados.

O professor Luiz Eduardo Carvalho, da UFRJ, complementa que a segurança de um alimento não depende do número de processos envolvidos em sua fabricação, destacando que alimentos como café encapsulado ou leite desidratado continuam nutritivos. Ele alerta para os riscos do uso acrítico do termo “ultraprocessado”, que desconsidera a complexidade da ciência dos alimentos.

A carta aberta representa um apelo por mais seriedade, clareza conceitual e fundamentação científica na formulação de diretrizes alimentares, buscando garantir que políticas públicas sejam baseadas em dados confiáveis e rigorosos.

Para ler a carta aberta na íntegra, acesse: https://datashare.tu-dresden.de/s/SiA9LSsi2ExM9cN/download/Open-Letter-UPF-Eng.pdf

Este conteúdo foi elaborado com informações da assessoria de imprensa.

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