Analfabetismo funcional no Brasil: por que passar pela escola não garante aprendizado real

Especialistas alertam para a necessidade de alfabetização intencional e políticas públicas que valorizem a formação docente e a responsabilidade escolar

Dados recentes do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgados pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, apontam que 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional. Isso significa que quase um terço dos brasileiros não consegue compreender textos simples nem realizar operações básicas com números — um índice que permanece estável desde 2018. Esse cenário reforça uma realidade preocupante: passar pela escola não significa, necessariamente, que o aluno aprendeu.

Segundo Cris Tempesta, diretora pedagógica da Escola Lourenço Castanho, doutora em Educação pela Unicamp, o analfabetismo funcional está diretamente ligado à falta de uma alfabetização efetiva, que deve ser intencional e sistemática desde os primeiros anos da Educação Infantil. Para ela, a escola é a única instituição responsável por esse processo, e é fundamental que o ensino da leitura e escrita seja planejado com cuidado, incluindo a mediação pedagógica constante e a escuta diária de textos literários para ampliar o vocabulário e o repertório cultural dos alunos.

“A escola tem exclusividade na alfabetização e, infelizmente, muitas pessoas ‘passam pela escola’ sem que ela deixe nelas o legado que deveriam”, destaca Tempesta. Ela compara os analfabetos funcionais a pacientes que sofreram negligência médica e carregam sequelas, ressaltando a importância de respeitar e responsabilizar os professores, assim como se faz com outros profissionais que lidam com vidas e futuros.

Na mesma linha, Vitor Azambuja, CEO e um dos criadores do programa De Criança Para Criança, defende que a alfabetização deve ser um compromisso coletivo que envolve não só a escola e os professores, mas também o poder público. Para ele, além do trabalho em sala de aula, é essencial que governos promovam campanhas para incentivar adultos a buscar instituições onde possam aprender a ler e escrever, já que muitos não sabem onde encontrar esses locais.

Azambuja também critica programas que priorizam índices de aprovação em detrimento do aprendizado real, o que pode levar à aprovação automática e a uma falsa sensação de progresso. “Não é aceitável que um jovem chegue à faculdade sem saber interpretar um texto. É fundamental capacitar e valorizar os professores para que o compromisso deles seja com a educação dos alunos, mesmo que isso implique reprovação”, afirma.

Assim, alfabetizar vai além do simples ato de ensinar a ler e escrever: é uma tarefa que exige planejamento, formação especializada, compromisso profissional e políticas públicas eficazes. Como ressaltam os especialistas, o futuro educacional do país depende de uma alfabetização intencional que garanta o aprendizado real e a inclusão social.

Este conteúdo foi elaborado com base em dados e informações fornecidas pela assessoria de imprensa da Escola Lourenço Castanho e do programa De Criança Para Criança.

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