Reduzir a jornada de trabalho para aumentar a produtividade: o exemplo da Islândia e lições para o Brasil
Como a semana de quatro dias transformou o mercado de trabalho islandês e o que empresas brasileiras podem aprender para reter talentos e melhorar resultados
Em um cenário global marcado por mudanças constantes no mundo do trabalho, a Islândia desponta como um exemplo inspirador ao provar que é possível trabalhar menos e produzir mais. Desde 2019, o país nórdico implementa amplamente a semana de quatro dias, mantendo salários e benefícios, e colhe resultados surpreendentes em produtividade e qualidade de vida. Dados do relatório de 2024 do The Autonomy Institute revelam que 86% dos trabalhadores islandeses já contam com jornada reduzida, sem queda na produção — em alguns casos, até com aumento.
O processo começou em 2015, com um experimento envolvendo 2.500 profissionais que testaram semanas com menos dias ou horas, sempre preservando seus ganhos. O sucesso do piloto levou sindicatos a negociarem reduções permanentes para dezenas de milhares de trabalhadores, em uma mudança construída por meio da negociação coletiva, e não por imposição governamental. O consultor de carreira da ESIC Internacional, Alexandre Weiler, destaca que essa transformação foi “orgânica, estratégica e baseada em evidências”, mostrando que produtividade está mais ligada à qualidade da gestão do que à quantidade de horas trabalhadas.
Além do impacto nos números, a jornada reduzida trouxe benefícios significativos para o bem-estar dos trabalhadores islandeses, como diminuição do estresse, queda nos casos de burnout e melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Esses aspectos são especialmente valorizados pela Geração Z, que já ingressa no mercado brasileiro com demandas claras por saúde mental e qualidade de vida. “Para essa nova geração, sucesso não é medido por horas extras, mas por impacto, entrega e bem-estar. Empresas que não compreenderem isso correm o risco de perder talentos”, alerta Weiler.
No Brasil, apesar das particularidades culturais e estruturais, há espaço para avançar nessa direção. O consultor sugere que organizações que desejam reter talentos e se manter competitivas devem começar a implementar medidas como horários flexíveis, trabalho híbrido e metas baseadas em entregas, não em horas cumpridas. A adoção de políticas de flexibilidade pode ser gradual, com pilotos internos para testar jornadas reduzidas e avaliar resultados antes de uma implementação mais ampla.
Entre as ações práticas recomendadas para o mercado brasileiro estão: mapear processos e eliminar tarefas repetitivas com o apoio da tecnologia; investir na capacitação de lideranças para uma gestão mais empática e orientada a resultados; colocar a saúde mental no centro da estratégia de gestão de pessoas; e revisar modelos de metas, priorizando entregas de valor em vez do controle rígido do tempo.
Este conteúdo foi elaborado com base em dados fornecidos pela assessoria de imprensa da ESIC Internacional e entrevistas com o consultor Alexandre Weiler, especialista em carreira e negócios. A experiência islandesa mostra que repensar a jornada de trabalho pode ser um caminho viável e benéfico para empresas e colaboradores, e o Brasil tem potencial para seguir essa tendência em busca de um futuro mais produtivo e saudável.