CPI das BETs revela impacto do vício em apostas online na saúde mental dos brasileiros
Psicólogo destaca os gatilhos emocionais do comportamento compulsivo e a urgência do apoio especializado para combater o problema
A recente CPI das BETs, que investiga o papel das casas de apostas esportivas no Brasil, trouxe à tona um debate essencial sobre os efeitos das apostas online na saúde mental da população. Mais do que uma questão econômica ou ética, o vício em apostas digitais configura-se como um grave problema de saúde pública, afetando milhões de brasileiros.
De acordo com dados do Instituto Locomotiva, entre janeiro e julho de 2024, cerca de 25 milhões de pessoas participaram de apostas esportivas em plataformas digitais, o que representa uma média de 3,5 milhões de apostadores por mês. O impacto financeiro é alarmante: 42% desses apostadores estavam endividados, segundo levantamento do Instituto DataSenado. Além disso, pesquisas da SBVC e AGP Pesquisas indicam que 63% dos jogadores tiveram sua renda comprometida, 19% deixaram de comprar alimentos e 11% reduziram gastos com saúde e medicamentos. Um dado preocupante revela que, somente em agosto, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em sites de apostas, o que equivale a 21,2% dos recursos distribuídos pelo programa naquele mês, conforme o Banco Central.
Para o psicólogo Márlon Mendonça de Souza, especialista da Telavita e pós-graduado em Neuropsicologia, o vício em apostas está profundamente ligado a fatores emocionais. “Os principais gatilhos são a impulsividade, a crença ilusória de que é possível enganar o sistema e o reforço social, como a exposição dos ganhos nas redes sociais, que cria uma falsa sensação de controle e sucesso”, explica.
Transtornos como ansiedade, depressão, TDAH, bipolaridade e transtorno de personalidade borderline frequentemente acompanham o comportamento compulsivo nas apostas. “A hiperexcitação emocional causada pelas apostas funciona como uma fuga temporária de sentimentos negativos. Mesmo com perdas frequentes, o jogador busca a sensação momentânea de vitória para aliviar tristeza ou desesperança”, detalha Márlon.
Outro fator que alimenta o vício é a gratificação imediata. “A possibilidade de ganhar em 90 minutos o equivalente a um mês de trabalho é extremamente sedutora, especialmente em um cenário econômico difícil. Para quem tem baixa autoestima, o reconhecimento social e a promessa de ganho fácil intensificam ainda mais o comportamento de risco”, complementa o psicólogo.
As consequências vão além do prejuízo financeiro, atingindo a esfera social e emocional. O isolamento, o término de relacionamentos e a deterioração da saúde mental são comuns. “Muitos apostadores tentam resolver crises financeiras por meio das apostas, mas o acúmulo de perdas aumenta a ansiedade e compromete o orçamento familiar, gerando desconfiança e afastamento social”, alerta Márlon.
Sinais de alerta incluem sacrificar necessidades básicas e depositar expectativas irreais nas apostas, como a ideia de não precisar mais trabalhar. O apoio de amigos e familiares é fundamental para incentivar a busca por ajuda profissional e para apresentar alternativas saudáveis de lazer e prazer.
O tratamento envolve autoconhecimento e reeducação emocional, com estratégias como evitar conteúdos relacionados a apostas, reduzir o contato com ambientes que incentivem o vício e buscar novas fontes de gratificação. “Diferente de outros vícios, as apostas são constantemente estimuladas por publicidade, eventos esportivos e influenciadores, o que torna o tratamento mais desafiador, mas não impossível”, conclui o especialista.
Este conteúdo foi elaborado com base em informações fornecidas pela assessoria de imprensa da Telavita, empresa pioneira em soluções digitais de psicologia e psiquiatria no Brasil, que oferece programas completos para o cuidado da saúde emocional.