Como Aprendi a Respeitar a Inteligência das Crianças ao Escrever Meu Primeiro Livro Infantil
Os desafios e descobertas de Marina Cyrino Leonel ao criar uma história que valoriza a imaginação e a autonomia dos pequenos leitores
Escrever para crianças pode parecer uma tarefa simples à primeira vista, mas a experiência da autora Marina Cyrino Leonel mostra que esse universo exige muito mais do que apenas uma boa ideia. Em seu relato sincero, Marina compartilha os desafios que enfrentou ao publicar seu primeiro livro infantil, “Clay – Que forma você quer ser quando crescer?”, e como aprendeu a não subestimar a inteligência dos pequenos leitores.
Marina já tinha uma trajetória sólida na escrita para adultos quando decidiu criar uma história para crianças. Inspirada por sua própria transição de carreira, ela desenvolveu Clay, um personagem que vive no mundo das formas geométricas e parte em uma jornada para descobrir sua verdadeira identidade. Apesar da boa estrutura e personagens interessantes, uma análise crítica feita durante um curso de literatura infantil revelou que o texto precisava de ajustes profundos.
Um dos principais aprendizados foi perceber que o texto original continha uma lição de moral explícita demais, o que, segundo Marina, é um erro comum na literatura infantil. “Um texto que se fecha em si mesmo, que impõe uma moral, é um texto que não confia na criança”, afirma a autora. Em vez de limitar a interpretação, a literatura para crianças deve abrir espaço para que elas criem suas próprias leituras, estimulando a imaginação e o desenvolvimento emocional.
Além disso, Marina identificou que o uso excessivo de diminutivos e um campo semântico pobre tornavam a narrativa menos envolvente. A autora entendeu que a linguagem para crianças precisa ser rica, lúdica e respeitosa, sem subestimar sua capacidade de compreender e sentir. Esse cuidado é fundamental para que a literatura infantil cumpra seu papel de entreter, educar e, sobretudo, confiar na inteligência do leitor mirim.
Após essa reflexão, Marina reescreveu praticamente todo o livro, transformando-o em uma obra que valoriza a autonomia das crianças e as convida a explorar o texto de forma criativa. Hoje, ela reconhece que escrever para o público infantil é uma responsabilidade enorme, que exige sensibilidade e respeito.
“Clay – Que forma você quer ser quando crescer?” foi lançado pela Editora Labrador em abril de 2025, com ilustrações de Sami Ribeiro, e traz uma mensagem sobre profissões, vocações e a coragem de se reinventar. A trajetória de Marina é um exemplo inspirador para autores e leitores, mostrando que a literatura infantil merece ser tratada com a mesma seriedade e carinho que qualquer outra forma de arte.
Se você é escritor, educador ou simplesmente apaixonado por livros infantis, a história de Marina Cyrino Leonel é um convite para repensar como nos comunicamos com as crianças e para valorizar sua capacidade de imaginar e interpretar o mundo. Afinal, respeitar a inteligência do leitor, mesmo quando ele é uma criança, é o primeiro passo para criar histórias verdadeiramente inesquecíveis.