A arte de respeitar a inteligência infantil: os desafios de escrever um livro para crianças

Por que criar histórias para o público infantil exige mais cuidado, criatividade e confiança do que muitos imaginam

Escrever para crianças pode parecer uma tarefa simples à primeira vista, mas a experiência da autora Marina Cyrino Leonel mostra que esse desafio vai muito além do que se imagina. Seu livro infantil “Clay – Que forma você quer ser quando crescer?” nasceu de um sonho e de uma jornada de autoconhecimento, revelando a importância de respeitar a inteligência do leitor mirim e a complexidade da literatura infantil.

Marina relata que, mesmo após meses de trabalho e revisões, um curso de literatura infantil mudou completamente sua visão sobre o projeto. O feedback recebido mostrou que seu texto, apesar de estruturado, carecia de elementos essenciais para cativar e estimular as crianças. Um dos principais erros identificados foi a presença de uma lição de moral explícita, que acabava por subestimar a capacidade da criança de interpretar a história por conta própria.

Essa constatação é fundamental para quem deseja criar conteúdo infantil de qualidade: “Um texto que se fecha em si mesmo, que impõe uma moral, é um texto que não confia na criança”, afirma Marina. Ao invés de ditar o que as crianças devem pensar ou sentir, a literatura infantil deve abrir espaço para que elas usem a imaginação, criem suas próprias interpretações e cresçam com a leitura.

Além disso, Marina percebeu que o uso excessivo de diminutivos e um campo semântico limitado prejudicavam a riqueza do texto. A linguagem para crianças não precisa ser simplista ou condescendente, mas sim cuidadosa e criativa, capaz de despertar o interesse e a curiosidade dos pequenos leitores.

A autora também destaca a responsabilidade envolvida na escrita infantil. Diferente do que muitos pensam, escrever para crianças exige atenção redobrada a cada palavra, pois o impacto da leitura pode influenciar o desenvolvimento emocional e cognitivo dos leitores. A literatura infantil não é apenas entretenimento ou educação; é uma forma de confiar no potencial das crianças para imaginar, interpretar e sentir.

“Clay” é uma história sobre profissões, vocações e a coragem de se reinventar, ilustrada por Sami Ribeiro e publicada pela Editora Labrador. A trajetória de Marina, que passou da medicina veterinária para a escrita, reforça que criar para o público infantil é um exercício de humildade, aprendizado constante e respeito à complexidade do universo infantil.

Para quem deseja se aventurar na literatura infantil, a dica é clara: não subestime a inteligência das crianças. Invista em leitura crítica, busque referências, participe de cursos especializados e, acima de tudo, confie no poder da imaginação dos pequenos leitores. Afinal, a infância é um período de transformação contínua, e a literatura deve acompanhar essa evolução, oferecendo histórias que crescem junto com quem as lê.

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