Brasil é potência mundial em odontologia, mas o acesso ao tratamento ainda é um desafio para milhões

Enquanto o país se destaca em ensino, pesquisa e indústria odontológica, a desigualdade no acesso aos serviços de saúde bucal persiste e preocupa especialistas

O Brasil é reconhecido mundialmente por sua excelência em odontologia, destacando-se tanto na formação acadêmica quanto na produção científica e industrial. Três universidades brasileiras figuram entre as 50 melhores do mundo na área, segundo o QS World University Rankings 2025, e o país ocupa a segunda posição global na produção de artigos científicos odontológicos. Além disso, o setor industrial nacional de dispositivos odontológicos cresceu significativamente, exportando US$ 136 milhões em 2024 para mais de 140 países, com destaque para Estados Unidos, México, Argentina, Suíça e Alemanha.

Apesar desse cenário de destaque, o acesso ao tratamento odontológico no Brasil ainda é um desafio real para grande parte da população. Dados recentes da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos), em parceria com o Conselho Federal de Odontologia (CFO) e a consultoria Key-Stone, revelam que 32% dos brasileiros não consultaram um dentista no último ano. A desigualdade é evidente quando analisamos fatores como escolaridade e renda: 75% das pessoas com ensino superior buscaram atendimento odontológico, contra apenas 54% daqueles com escolaridade básica. Em termos de renda, 80% dos que ganham acima de 10 salários mínimos consultaram dentistas, enquanto apenas 59% dos que recebem até um salário mínimo tiveram acesso ao serviço.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é a principal alternativa para milhões de brasileiros, mas a pesquisa mostra que, em 2024, apenas 23% dos atendimentos odontológicos foram realizados na rede pública. A maior parte das consultas, 74%, ocorreu na rede privada, o que evidencia que o acesso à saúde bucal ainda é um privilégio para quem pode pagar.

Esse paradoxo entre a excelência do setor odontológico brasileiro e a dificuldade de acesso da população aponta para a necessidade urgente de políticas públicas mais eficazes e investimentos que ampliem a cobertura e a qualidade dos serviços públicos. Investir na indústria nacional, incentivar a inovação tecnológica e fortalecer programas de saúde bucal são passos fundamentais para reduzir as desigualdades e garantir que mais brasileiros tenham acesso a tratamentos adequados.

Para que o Brasil mantenha sua posição de destaque global na odontologia, é fundamental equilibrar a qualidade e inovação do setor com a ampliação do acesso aos cuidados básicos. Valorizar a produção nacional e fortalecer o SUS são estratégias que podem transformar o sistema de saúde bucal em um modelo mais inclusivo, eficiente e sustentável, beneficiando toda a população.

Assim, o país não apenas continuará a ser uma referência mundial em odontologia, mas também garantirá que milhões de brasileiros tenham o direito ao atendimento odontológico assegurado, promovendo saúde, bem-estar e qualidade de vida para todos.

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