Saúde mental e inclusão na maternidade atípica: o cuidado essencial de quem cuida
Entenda os desafios enfrentados pelas mães de crianças neurodivergentes e a importância de apoio emocional e social para essas mulheres
No mês das mães, enquanto celebramos o amor e a dedicação materna, é fundamental trazer à tona um tema que ainda permanece pouco discutido: a maternidade atípica. Esse conceito refere-se às mulheres que cuidam diariamente de filhos neurodivergentes, ou seja, crianças com condições como autismo, TDAH e outras diferenças no desenvolvimento. Essas mães desempenham um papel central na estrutura familiar, mas enfrentam desafios emocionais e sociais que merecem atenção e acolhimento.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, aproximadamente 1 em cada 54 crianças no Brasil está dentro do espectro autista. Entre as mães que cuidam integralmente desses filhos, 38% apresentam sintomas de depressão e 45% convivem com quadros de ansiedade. Esses números evidenciam a sobrecarga emocional e a vulnerabilidade mental que muitas vezes ficam invisíveis para a sociedade e para as instituições públicas.
O professor Nilson Sampaio, especialista em inclusão e formação de educadores, destaca que a maternidade atípica exige não apenas amor e resiliência, mas também uma rede de apoio que, infelizmente, ainda é insuficiente. Para ele, a inclusão verdadeira começa quando reconhecemos o papel dessas mães e nos comprometemos a acolhê-las, não só na esfera familiar, mas também nas escolas, no trabalho e nas políticas públicas.
Entre as ações necessárias para esse acolhimento estão a formação continuada de professores para uma escuta ativa e sensível, ambientes escolares que valorizem a família como um todo, políticas de flexibilização no trabalho e redes comunitárias que ofereçam suporte psicológico e emocional. A escola, por exemplo, deve ser um espaço que escute e apoie não apenas a criança, mas também a mãe, fortalecendo a autoestima e o desenvolvimento de toda a família.
Além disso, é importante ampliar o olhar da sociedade para as múltiplas jornadas dessas mulheres, que muitas vezes enfrentam sozinhas consultas, terapias, deslocamentos e a sobrecarga doméstica. Essa falta de rede de apoio pode gerar sentimentos de solidão, culpa e exaustão, impactando diretamente a saúde mental dessas mães. Muitas deixam suas carreiras, enfrentam rupturas afetivas e lidam com julgamentos sociais, além da ausência de políticas públicas adequadas.
Portanto, cuidar de quem cuida é um compromisso coletivo. Reconhecer e valorizar as trajetórias das mães atípicas é essencial para promover uma inclusão real, que vai além da criança e alcança toda a estrutura familiar. O acolhimento, a empatia e o suporte público são caminhos para transformar essa realidade, garantindo que essas mulheres não estejam sozinhas em sua jornada. Afinal, nenhuma transformação acontece sem o cuidado e o apoio de quem está ao lado.