Janela de Overton: Como a Manipulação Social Molda Nossas Opiniões na Era Digital
Entenda os mecanismos por trás da transformação de ideias e como se proteger da manipulação disfarçada de consenso
Nos últimos anos, a discussão sobre como as opiniões públicas são moldadas ganhou novos contornos com o avanço da tecnologia e das redes sociais. Um conceito pouco conhecido, mas extremamente relevante, é a Janela de Overton — uma teoria que explica como ideias inicialmente inaceitáveis podem se tornar normais através de estratégias graduais de persuasão.
Marcelo Senise, sociólogo e especialista em comportamento humano, aborda esse tema em seu novo livro, *A Delicada (ou não) Arte da Desconstrução Política*. Segundo ele, a Janela de Overton não é apenas uma curiosidade acadêmica, mas uma ferramenta ativamente utilizada em estratégias de marketing político e manipulação social. O processo é simples: uma ideia radical é introduzida de forma sutil, discutida em diferentes contextos e, aos poucos, normalizada até que a sociedade a aceite como parte do senso comum.
Como isso acontece na era digital?
Com a ascensão das redes sociais, a velocidade e a eficácia dessas estratégias aumentaram exponencialmente. Algoritmos priorizam conteúdos que geram engajamento — muitas vezes polarizadores ou emocionais —, criando bolhas de informação que reforçam crenças e filtram perspectivas divergentes. O resultado? Uma ilusão de consenso, onde a opinião pública é moldada não pela reflexão, mas pela exposição seletiva a narrativas cuidadosamente construídas.
Senise alerta que a liberdade de expressão, quando desacompanhada de pensamento crítico, pode se tornar um terreno fértil para a manipulação. “O que viraliza raramente é o que tem profundidade; é o que provoca, polariza ou emociona”, afirma. Nesse cenário, a retórica supera a razão, e o espetáculo substitui o debate qualificado.
Como se proteger?
O autor defende que o primeiro passo é entender os mecanismos de manipulação. Quando reconhecemos as estratégias por trás da transformação de ideias, deixamos de ser vítimas passivas e nos tornamos agentes críticos. A obra de Senise não busca fomentar teorias da conspiração, mas sim convocar uma postura mais vigilante e consciente diante dos fluxos de informação.
Em um mundo onde a hiperinformação e a distração são constantes, pensar criticamente se torna um ato de resistência. O livro, que será lançado em breve, promete ser um convite para repensar as estruturas que moldam aquilo que chamamos de “nossa” opinião.
*Marcelo Senise é sociólogo, marqueteiro político e CEO da CONECT I.A, com 36 anos de experiência em análise de comportamento e inteligência artificial.*