Maternidade no mercado de trabalho: desafios e estratégias para inclusão real

Especialistas apontam que estigmas e estruturas corporativas ultrapassadas continuam prejudicando a trajetória profissional de mulheres mães

A maternidade ainda é um divisor de águas na carreira de mulheres? A resposta, segundo especialistas em diversidade e inclusão, é um incômodo “sim”. Pesquisa da Think Olga revela que mulheres dedicam 21,4 horas semanais a cuidados não remunerados — quase o dobro do tempo dos homens —, o que impacta diretamente sua permanência e ascensão profissional.

Laura Salles, CEO da PlurieBR, plataforma pioneira em gestão de dados de diversidade, explica que o problema vai além da sobrecarga física: “Há um viés inconsciente que penaliza mães em processos seletivos, promoções e avaliações de desempenho. Muitas empresas mantêm estruturas rígidas que ignoram as demandas da parentalidade”.

O custo invisível dos estereótipos
Ana Conti, consultora da PlurieBR e mãe de três filhos, desafia a narrativa que associa maternidade à baixa produtividade: “Mulheres retornam da licença-maternidade com habilidades ampliadas — gestão de tempo, resiliência e priorização. O que falta é reconhecimento desse potencial”.

O impacto é quantificável: profissionais mães relatam maior dificuldade para acessar cargos de liderança, mesmo sendo 37% mais propensas a possuir ensino superior completo que homens em posições equivalentes, segundo o IBGE. A desconexão entre discurso corporativo e prática resulta em perda de talentos e prejuízos econômicos estimados em até 15% do PIB brasileiro, conforme cálculos do Banco Mundial.

Licenças desiguais e a armadilha do cuidado
A discrepância nas políticas de licença-parental reforça estereótipos: enquanto mães têm direito a 4 meses de afastamento, pais contam com apenas 20 dias. Laura Salles alerta: “Isso cristaliza a ideia de que o cuidado é responsabilidade exclusiva feminina, afetando até demissões pós-retorno”.

A solução, segundo a especialista, passa por:
1. Licenças parentais igualitárias e flexíveis
2. Trilhas de carreira adaptáveis às fases da parentalidade
3. Redes de apoio internas entre colaboradores(as)
4. Coleta contínua de dados sobre equidade

Inclusão como estratégia de negócio
Empresas que implementaram políticas robustas de apoio à parentalidade registraram aumento de 25% na retenção de talentos e 19% na produtividade, segundo a consultoria McKinsey. “Incluir mães não é assistencialismo — é garantir diversidade de perspectivas essencial para inovação”, defende Salles.

O caminho para mudança exige ações concretas: capacitação de gestores para eliminar vieses, revisão de processos seletivos e criação de indicadores específicos sobre equidade parental. Como resume Ana Conti: “Quando valorizamos a experiência da maternidade, construímos organizações mais humanas e competitivas”.

A transformação é urgente: até 2030, o Brasil terá 10 milhões de mulheres mães no mercado formal. Sua inclusão plena definirá não apenas o futuro do trabalho, mas o progresso social como um todo.

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