Desvendando o hipotireoidismo: vida segue normal com diagnóstico e tratamento adequados

No Brasil, estima-se que até 22 milhões de pessoas (aproximadamente 10% da população1,2 possa sofrer com a doença1,2, que é de 5 a 8 vezes mais frequente nas mulheres3; Paciente precisa de disciplina para a jornada entre diagnóstico até chegar ao tratamento adequado; A endocrinologista Laura Ward sugere práticas da rotina para ajudar na adesão dos pacientes ao tratamento contínuo.

Dez por cento das mulheres acima dos 40 anos apresentam algum problema na tireoide[2]. Uma das condições que afeta a tireoide, o hipotireoidismo, acarreta a diminuição da produção dos hormônios T3 e T4, essenciais para o bom funcionamento do metabolismo e do organismo5. Essa disfuncionalidade da tireoide causa sintomas que impactam a qualidade de vida dos pacientes, mas são pouco específicos. Por serem facilmente confundidos com outras doenças, como a depressão, podem dificultar ainda mais o diagnóstico, sendo importante o acompanhamento por um médico especialista6.

A disfunção da glândula tireoidiana pode causar vários sintomas, como fraqueza, cansaço excessivo, desânimo, diminuição da memória, irregularidade menstrual, desaceleração dos batimentos cardíacos, intestino preso, queda de cabelo, ganho de peso e aumento do colesterol no sangue4. Sintomas esses que usualmente estão presentes em muitas outras doenças, incluindo as arboviroses bem comuns atualmente, como a Dengue, e infecções como a gripe e a COVID-19.

Esses sintomas também podem aparecer em muitas condições relacionadas ao estilo de vida, como o estresse, e transtornos da saúde mental também podem ter sintomas parecidos. No Brasil, estima-se que até 22 milhões de pessoas (aproximadamente 10% da população 1,2) sofram com a doença1,2, que é de 5 a 8 vezes mais frequente nas mulheres[3].

O tratamento realizado para hipotireoidismo normalmente é feito com reposição do hormônio tireoidiano. O sucesso do tratamento exige disciplina do paciente, desde a jornada pela busca do diagnóstico até o tratamento adequado, com horários e dosagens corretos. É importante também o acompanhamento próximo do médico.

Para pacientes polifarmácia (que fazem uso de mais de quatro medicamentos simultaneamente), por exemplo, a jornada de tratamento pode ser mais desafiadora, devido à necessidade de gerenciar múltiplos medicamentos que interagem; dos riscos associados a interações medicamentosas; às condições associadas de saúde etc. A eficiência na adesão ao tratamento está relacionada à regularidade na administração diária do medicamento que consiste em um único comprimido na dosagem adequada7.

É o caso da jornalista e coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy, Vanessa Pirolo, que além do tratamento para hipotireoidismo, é paciente de diabetes tipo I. O diagnóstico de hipotireoidismo foi resultado de um câncer na tireoide.

 

Vanessa Pirolo

Jornalista e paciente de hipotireoidismo

“Minha mãe foi a primeira a ter o nódulo na tireoide detectado e após exames complementares, fez a retirada da tireoide. Na sequência, as mulheres da minha família foram passando pelo mesmo processo. Na minha vez, a detecção foi bem precoce e hoje faço o tratamento seguindo as recomendações do médico quanto a jejum e dose, com visitas de rotina a cada seis meses”. 

A médica Laura Ward reforça as recomendações de seguir o tratamento continuamente logo após o diagnóstico de hipotireoidismo:

 

Laura Ward

Endocrinologista, pesquisadora e professora titular da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP

“O tratamento para o hipotireoidismo é contínuo, pode durar a vida inteira e requer uma rotina diária de medicação. Por isso, os pacientes precisam compreender plenamente a importância da adesão correta ao tratamento e os riscos associados à falta de tratamento adequado, que podem resultar em impactos consideráveis em sua qualidade de vida.”

A baixa adesão ao tratamento pode levar a uma qualidade de vida reduzida e a um aumento do risco de complicações a longo prazo, como alto risco de elevação de colesterol e/ou triglicerídeos, hipertensão arterial, problemas cardiovasculares, infertilidade e depressão8.

A Dra. Laura recomenda algumas dicas práticas que podem ajudar na rotina de administração de medicamentos contínuos, como os usados no tratamento dos distúrbios da tireoide:

Estabeleça um horário regular associados a hábitos rotineiros: associar a tomada do medicamento com uma atividade diária, como escovar os dentes pela manhã, pode ajudar a evitar que o medicamento seja esquecido.

Defina lembretes: utilizar alarmes no celular, aplicativos de lembrete de medicamentos ou até mesmo notas visuais em locais de fácil visualização também são estratégias que auxiliam a gerenciar a rotina de medicamentos que precisam ser tomados.

Guarde o medicamento em local de fácil acesso: manter os medicamentos ao alcance facilita o cumprimento do tratamento prescrito pelo médico, além de ajudar a monitorar a quantidade de medicamento à disposição, evitando interrupções no tratamento.

 

O desafio do diagnóstico

Apesar de ser uma doença que exige cuidados, 40% das pessoas diagnosticadas com hipotireoidismo não realizam o tratamento da forma adequada9. Diante desse cenário, incentivar o paciente a realizar o tratamento adequadamente e obter informações que o ajude no diagnóstico correto da doença são desafios que influenciam no tratamento do hipotireoidismo.

A detecção do hipotireoidismo é feita por exames de sangue para analisar o TSH, hormônio estimulante da tireoide, que precisa ser repetido após 4 a 6 meses para a conclusão do diagnóstico de hipotireoidismo. Isso porque existem elevações transitórias do TSH por várias causas. A dosagem de TSH e de outros parâmetros estabelece a causa do hipotireoidismo e, posteriormente, também é importante para acompanhar a eficácia do tratamento.

 

Laura Ward

“Os sintomas pouco característicos do hipotireoidismo geram muitas dúvidas nas pessoas, por isso é importante que elas procurem um médico para investigar a causa desses sintomas e pedir os exames necessários. Persistir no caminho do diagnóstico evitará não apenas o agravamento da doença, mas também as chances de receber um diagnóstico e fazer um tratamento inadequado.”

 

Referências

[1] Olmos RD, Figueiredo RF. Aquino EM, Lotufo PA, Bensenor IM. Gender, race and socioeconomic influence on diagnosis and treatment of thyroid disorders in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil). Braz Med Biol Res. 2015 Aug:48(8):751-8.

Benseñor, Isabela M et al. “Incidence of thyroid diseases: Results from the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health (ELSA-Brasil).” Archives of endocrinology and metabolism vol. 65,4 (2021): 468-478. doi:10.20945/2359-3997000000348

Brasil. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. “Tireoide e Coração na Dose eA m— bia — Internacional da Tireoide — Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/tireoide-e-coracao-na-dose-certa-25-5-dia-internacional-da-tireoide/

Hipertireoidismo e Hipotireoidismo – SBEM (endocrino.org.br) [Internet]. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/hipertireoidismo-e-hipotireoidismo/ Acessado em 02/05/2024.

Alves B / O / OM. Hipotireoidismo | Biblioteca Virtual em Saúde MS [Internet]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/hipotireoidismo-2/

Mitos e Verdades sobre o Distúrbios da Tireoide – Departamento de Tireoide da SBEM [Internet]. Disponível em: https://www.tireoide.org.br/para-o-publico/mitos-e-verdades-sobre-o-disturbios-da-tireoide/

Bagattoli RM, Vaisman M, Lima JS, Ward LS. Estudo de adesão ao tratamento do hipotiroidismo. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia. 2000 Dec;44(6):483–7

Hipotireoidismo: Causas, Sintomas e Tratamento | Sanofi Brasil [Internet]. www.sanofi.com.br. Disponível em: https://www.sanofi.com.br/pt/sua-saude/medicamentos/hipotireoidismo

 

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