Medicamentos e vacinas contra vírus são estudados em células de macaco africano

Organismo biológico, microscópico (portanto invisível a olho nu), mas com uma capacidade de multiplicação impressionante, agente causador de doenças (graves, inclusive) em animais e plantas. É, em síntese, a definição de vírus.

Desenvolver produtos e soluções que combatam tais microrganismos tornou-se desafio para a sociedade, além de se constituir em uma atividade econômica que só neste ano deve movimentar US$ 53 bilhões no mundo. Tarefa que demanda conhecimentos interdisciplinares e exige tecnologia, disciplina e segurança.
É o que mostra a rotina de trabalho em um laboratório localizado no ecossistema de biotecnologia de Botucatu, interior de São Paulo – o da Crop Labs. Neste caso, com um diferencial: trata-se de um laboratório que utiliza tecnologias avançadas para avaliação de eficácia de produtos químicos e farmacêuticos.
A Crop Labs, entre outras soluções, ficou conhecido principalmente por realizar pesquisas no combate ao coronavírus causador da covid-19. Atualmente, é um dos 60 laboratórios que compõem a Rede Brasileira de Laboratórios Analíticos em Saúde (Reblas), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Mas, vamos à rotina em um laboratório que se dedica a testar produtos contra vírus… Inicialmente, importante contextualizar que produtos são esses. Tratam-se de saneantes e antissépticos, e mesmo vacinas e medicamentos eficazes contra vírus e suas ações. Tal eficácia, porém, precisa de ser cientificamente comprovada, e é nesse ponto que entram os testes.
“O primeiro passo é comprovar que funcionam em bancada, ou in vitro, como chama”, pontua o engenheiro de Biotecnologia Aruã Prudenciatti, diretor da Crop Labs. “Após atestar a eficácia in vitro, podem ser feitos testes em voluntários, para atestar a eficácia na população. Além da eficácia, é também importante testar a segurança desses produtos”, acrescenta.
A TRILHA DE TESTES
Ao receber um produto para ser testado, o laboratório precisa garantir que tudo seja rastreável – desde o lote de produção da amostra recebida até os insumos utilizados no teste. O virologista Lucas Ribeiro, responsável técnico pelas instalações da Crop Labs, destaca as especificidades entre trabalhar com vírus e outros organismos igualmente patogênicos, como bactérias e fungos. “Diferentemente das bactérias, que precisam apenas de açúcares para crescerem, os vírus precisam de uma célula hospedeira. Basicamente, ele tem de infectar uma célula humana para se multiplicar, e isso é o que deve ser feito em laboratório, antes do teste do produto”, conta. A célula hospedeira para este tipo de vírus em laboratório origina do macaco verde africano e recebe o nome de célula Vero.
Assim, além da eficácia, assinala o biotecnologista Aruã Prudenciatti, “é também importante testar a segurança dos produtos. São testes vão desde a avaliação da irritação na pele de um produto antisséptico até testes de toxicidade crônica, por uso prolongado, em medicamentos e vacinas, por exemplo”.
DISCIPLINA, BIOSSEGURANÇA
Para além do conhecimento científico acumulado, que viabiliza a descoberta e aplicação de métodos eticamente responsáveis, e de tecnologia de ponta para colocá-los em prática, medidas de biossegurança são indispensáveis, e cumpridas rigorosamente, com disciplina exemplar. Ainda mais, quando há vírus envolvido – dada a já mencionada capacidade de reprodução e contaminação desses patógenos.
Equipamentos de proteção individual, instrumentos para manipulação e objetos em geral observam normas que garantam proteção dos profissionais e execução dos testes com mitigação abosluta de riscos. Arquitetura e outras configurações do ambiente laboratorial igualmente devem proporcionar atendimento a quesitos de segurança. “Trabalhar com vírus exige biossegurança mais elevada, o que passa por uma estrutura específica, treinamento de pessoal e controle minucioso de qualidade”, afirma Aruã Prudenciatti.
O diretor sublinha que, para poder realizar testes de produtos contra vírus, a Crop Labs trabalhou no desenvolvimento de tecnologias em conjunto com o Laboratório de Biotecnologia Aplicada do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu.

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