Os desafios da promoção da igualdade de gênero diante do avanço da Inteligência Artificial
Especialistas da Korú avaliam panorama atual e dão direcionamento para um futuro mais oportuno diante das previsões feitas para as mulheres no contexto da IA
No mercado de trabalho, as mulheres são as mais expostas pela inteligência artificial (IA), pois muitos cargos que serão substituídos, em sua maioria, são ocupados por elas. “Embora a disparidade entre homens e mulheres quanto à participação da força de trabalho esteja diminuindo, o progresso das carreiras segue desigual”, afirma Raissa Florence, Co-fundadora e Diretora de Marketing e Vendas na Koru. O último relatório da UNESCO que examina os efeitos do uso da IA na carreira profissional e nos ambientes de trabalho das mulheres diz que, “geralmente, as mulheres ganham menos, ocupam menos cargos superiores e tendem a ter empregos mais precários, além de passarem mais tempo realizando trabalhos não remunerados de cuidados de crianças e idosos e de atividades domésticas, por exemplo, e participam menos das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática”.
Nesse contexto, outro agravante é que o investimento em diversidade e inclusão caiu 41% este ano devido à contenção de custos por parte das empresas, segundo levantamento do Glassdoor, site de vagas e avaliações americano. “O mercado derreteu do segundo semestre de 2022 pra cá e os grupos minorizados são os mais prejudicados quando isso acontece”, comenta Daniel Spolaor, CEO da Koru.
No entanto, o futuro desse cenário não precisa ser, necessariamente, negativo para elas. Para melhorá-lo, é importante saber aproveitar o poder da IA para diminuir as diferenças de igualdade de gênero e impedir que elas se perpetuem ou, pior ainda, aumentem. De acordo com os especialistas da Korú, polo de conhecimento para o aprimoramento de carreiras, o caminho para isso passa por alguns pontos fundamentais:
- Requalificação e especialização das trabalhadoras: A IA tem o potencial de impactar a requalificação das trabalhadoras de várias maneiras. Por um lado, pode haver uma substituição de certas tarefas realizadas por trabalhadoras por meio da automação. Nesse caso, é importante que as mulheres tenham acesso a programas de requalificação que as capacitem para novos papéis e habilidades necessárias nesse cenário. Isso pode envolver programas de treinamento específicos e oportunidades de aprendizado contínuo para garantir que as mulheres estejam preparadas para as demandas do mercado de trabalho em evolução.
- Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática: A IA também pode desempenhar um papel importante no incentivo às mulheres a se envolverem nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. A falta de representação feminina nessas áreas é um desafio persistente, e a IA pode ajudar a enfrentar esse problema, fornecendo modelos, referências e histórias de sucesso de mulheres que são líderes e inovadoras nessas áreas. Além disso, as tecnologias baseadas em IA podem ser utilizadas para desenvolver programas de mentoria, comunidades online e recursos educacionais voltados para atrair e apoiar as mulheres interessadas nessas áreas.
- Contexto e cultura: É essencial considerar as complexidades contextuais e culturais de cada país ou região ao discutir os impactos da IA para as mulheres. As barreiras culturais e sociais podem afetar a participação das mulheres no setor de tecnologia e limitar seu acesso a oportunidades de requalificação. Portanto, é necessário abordar essas questões, promover uma cultura inclusiva e buscar soluções que levem em conta as particularidades de cada contexto. Isso pode envolver parcerias com organizações locais, governos e a sociedade civil para criar programas adaptados às necessidades específicas das mulheres em diferentes regiões.
Vale ressaltar que, embora haja avanço acelerado das inovações em Inteligência Artificial, a equidade continua a passos lentos. “Não podemos mais deixar as transformações nas mãos de políticas públicas, é vital o envolvimento de empresas e iniciativas que façam a diferença. IA tem o poder de reduzir a desigualdade, em vez de aumentar, mas para isso o esforço deve ser coletivo”, pontua Raissa Florence.