Refletir sobre a finitude pode tornar a vida mais leve
Especialista relata que compreender e refletir sobre o fim da vida é um preparo para lidar com a morte de modo mais leve
A morte é um aspecto intrínseco à vida, pois faz parte do ciclo natural da existência. Ainda o tema é um dos principais tabus, porém o fato de invisibilizar esse processo é extremamente prejudicial, o que faz com que a maior parte da sociedade não saiba lidar com essa questão.
Um estudo inédito foi realizado no Brasil chamado “Cartografia da Morte”, nele, um dado bastante peculiar é apresentado, o tema da morte é um tabu para mais de 73% dos brasileiros. Encomendado pelo Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), foi constatado que os brasileiros têm uma dificuldade muito grande para falar e debater sobre assuntos relacionados com a finitude da vida. Distintos da cultura japonesa, que realizam um grande festival chamado Obon, geralmente acontecem entre os dias 13 e 15 de julho, todavia a data não se festeja alegremente a morte, mas sim, o Obon é entendido como um momento de luto, silêncio, reflexão e paz em momentos difíceis. Para os japoneses, refletir sobre a finitude é principalmente um momento de pensar a vida e como ela tem sido utilizada.
A especialista em qualidade de vida na terceira idade e fundadora e CEO da Senior Concierge, empresa que pratica um modelo de atenção integrada para dar suporte a pessoas com mais de 60 anos, Márcia Sena, diz, que muitas vezes, quando pensamos na morte, centramos muita energia no medo do que ainda não veio e isso pode tornar esse medo pode causar pavor, angústia e até mesmo causar dor física. Por essa razão é preciso compreender que a certeza do fim pode contribuir na superação desse “choque”, na reflexão que muito do que viveu pôde trazer boas lembranças.
Márcia Sena, alega que conversar sobre a morte é essencial não apenas para quebrar mitos e normalizar o fato, mas também para garantir melhores formas de lidar com a finitude. Pois, reconhecer e debater sobre a questão de que a vida fatalmente se encerrará em algum momento ajuda nos preparativos que tornam menos penoso o momento para familiares e amigos principalmente de idosos.
“Em uma doença terminal o conhecimento de como agir pode aliviar bastante o sofrimento de quem está partindo e de quem ficou. Há um desconhecimento muito grande sobre o fato de que é possível prezar pela qualidade de vida mesmo de quem está partindo. Desde 2018, o Sistema Único de Saúde (SUS) integra os cuidados paliativos como parte dos cuidados continuados para pacientes terminais. A ideia é garantir que essas pessoas recebam um conforto até o final de suas vidas”, lembra.
Como lidar nos momentos finais de um ente querido?
Sendo assim, Márcia Sena elenca ainda 6 orientações que podem ajudar nesse momento difícil e delicado para os familiares e amigos próximos que conhecem alguém que está chegando ao fim da vida:
- Reconhecer o fim: esse é um importante passo para tudo que se seguirá adiante. Entender sobre a finitude de nossas próprias vidas é lembrar que estamos todos em um grande processo cíclico de idas e vindas.
- Não ter medo: saber que perdemos as pessoas mais importantes da nossa vida pode ser uma forma de se preparar para garantir que o momento da partida seja o menos doloroso possível. Não devemos ter medo de perder alguém porque esse é um fato inevitável para 100% dos seres humanos.
- Não se culpar: é muito comum que pessoas próximas sintam culpa pela morte de algum ente querido, imaginando que poderiam ter feito mais ou até evitado aquele falecimento. O sentimento, que afeta até mesmo cuidadores profissionais, deve ser medido e controlado para que não gere prejuízos emocionais e sociais severos.
- Garantir cuidados paliativos: em situações terminais é essencial saber os cuidados necessários. Em casos que há doenças com dores, é preciso apoio médico para que haja a receita dos medicamentos analgésicos mais adequados, por exemplo.
- Entender que o tempo do luto varia de pessoa para pessoa: a morte de alguém próximo afeta de maneira bastante particular cada um que conviveu com aquele que se foi. Por isso, é necessário compreender que há pessoas que vivem o luto por anos, enquanto outras conseguem passar por essa fase difícil em meses. Esse entendimento é essencial para evitar julgamentos sobre o próprio estado e do estado dos outros.
- Procurar ajuda de profissionais: o sofrimento psicológico às vezes é tão forte que pode ser comparável a dores físicas. Portanto, garantir apoio profissional psicológico ou psiquiátrico pode tornar menos difícil o processo de entendimento sobre o fim da vida.