Acolhimento e desenvolvimento socioemocional são imprescindíveis para crianças e adolescentes
por *Sueli Conte
Acabo de ler os resultados da mais recente edição da pesquisa TIC Kids Online Brasil e não estou surpresa com o que foi constatado. O levantamento só confirma o que eu já vinha sentindo no convívio com crianças e adolescentes em idade escolar: eles precisam de apoio emocional!
De acordo com o estudo, um terço das crianças e dos adolescentes brasileiros com idades entre 11 e 17 anos já precisou buscar apoio emocional na internet. Segundo a pesquisa, o universo online foi refúgio para 36% das meninas e para 29% dos meninos.
Acho positivo que eles busquem apoio. No entanto, assim como é possível encontrar suporte positivo na internet, também há o risco de que eles entrem em contato com pessoas que podem complicar ainda mais essas dificuldades relacionadas ao universo emocional.
Também é interessante refletir sobre os motivos que levam essas crianças e adolescentes a buscar ajuda na internet em vez de tentar estabelecer um diálogo aberto e sincero com seus pais, com irmãos, professores e outras pessoas próximas. Claro que eles podem se sentir envergonhados ou ter receio de abordar determinados temas com quem partilham a rotina diária.
Nessa faixa, dos 11 aos 17 anos, as crianças e adolescentes estão passando por processos importantes. É normal vê-los com humor instável, fruto do desenvolvimento hormonal. Também é comum que eles estejam tentando compreender seu espaço na sociedade e quem eles realmente são. Essa é uma fase de grande confusão, afinal é quando acontece uma verdadeira transição física e mental. Eles não são mais criancinhas, mas ainda não têm a autonomia de um adulto. A cobrança por mais responsabilidade é feita por pais, professores, amigos e por eles próprios.
Cabe a nós, adultos, observar com atenção e identificar pequenos detalhes no comportamento das nossas crianças e adolescentes a fim de auxiliá-los de maneira efetiva. Podemos, aos poucos, propor alguns bate-papos descontraídos. Para que isso realmente aconteça sem que eles estejam ‘armados’, vale adotar estratégias diferentes. Já pensou em estabelecer, de forma casual, um momento ‘pai e filho’? Não é necessário traçar um super planejamento para isso. Apenas reserve uma ou duas horas em um dia da semana e surpreenda esse jovem com um convite para um sorvete. Esses breves momentos de descontração certamente vão melhorar a relação entre vocês, vão promover a criação de um vínculo e a criança ou adolescente sentirá que tem nos pais ou nos responsáveis alguém com quem contar em todas as ocasiões.
Preciso ressaltar que não vale cobrar que a criança ou adolescente lhe conte tudo desde o primeiro momento. Sei que você ficará ansioso durante esse processo, mas é importante que eles se sintam confortáveis para falar. Também recomendo que, ao chegar o momento de ouvir o que a criança tem a dizer, você não assuma uma postura de repúdio ou recriminação frente ao que for relatado. Prepare-se para aconselhar de forma firme, porém tranquila, dando abertura para que novas conversas do gênero aconteçam.
Apoiar as crianças e adolescentes emocionalmente é, sem dúvida, uma tarefa da família. Quando esse suporte é oferecido tendo a parceria da escola, o resultado tende a ser ainda melhor. Se isso ainda não acontece na sua casa, tente adotar novos comportamentos para que se torne uma realidade. E, caso você tenha crianças menores em casa, pratique desde já para que a adolescência seja uma fase mais tranquila para vocês.
*Sueli Conte é aplicadora de Barras de Acess, licenciada em Psicologia e desenvolve um trabalho voltado para os aspectos educacionais. Tem especialização em psicopedagogia, é mestre em educação e em neurociência, autora dos livros ‘Re-novações’, ‘Bastidores de uma escola’ e, mais recentemente, da obra ‘Educando para a vida no pós-pandemia’, na qual lança luz aos diversos desafios enfrentados pelos educadores e pais em decorrência da pandemia.
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