Mais de seis milhões de brasileiros pediram demissão no último ano
Brasil bate recorde de pedidos de demissão, aponta pesquisa. Tendência também é forte em posições de liderança
Nos últimos doze meses, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais de 6 milhões de brasileiros deixaram seus empregos voluntariamente — uma saída em massa sem precedentes da força de trabalho, estimulada pela Covid-19, que agora está sendo amplamente chamada de Great Resignation. “A Grande Renúncia” refere-se a uma imensa onda de pessoas pedindo demissão porque já não querem retomar o modelo de trabalho que tinham antes da pandemia ou por não concordarem com as novas propostas de retomada feitas pelas lideranças de suas empresas.
Os trabalhadores que estavam contrariados no emprego em 2020 preferiram não continuar com a segurança de um holerite mensal e enfrentar o desconhecido. O movimento, que surgiu primeiro nos Estados Unidos, vem se espalhando em alta velocidade pelo mundo — como mostram os números divulgados no Brasil.
“Esse fenômeno é causado por um conjunto de fatores que foram potencializados pelo período da pandemia, principalmente nas fases mais intensas de lockdown. A busca pelo equilíbrio entre vida e trabalho tem se tornado, cada vez, mais prioridade para os profissionais de mercado nos últimos anos. Eles passaram a buscar mais informação a apoio de políticas de equilíbrio de vida e autoconhecimento, olhando mais fortemente para seus propósitos e alinhamento às organizações.”, comenta Gustavo Costa, sócio-fundador da Unique Group, consultoria de recursos humanos especializada na contratação de executivos.
Ao todo foram 6.175.088 pedidos de demissão, de trabalhadores com carteira assinada, entre junho de 2021 e maio de 2022 . Os quase 6,2 milhões de pedidos de demissão representam um terço de todos os desligamentos registrados nos últimos 12 meses (18,7 milhões). Alguns desses pedidos de demissão são profissionais em cargos de liderança e possuem uma dinâmica que varia de acordo com o momento de mercado. “Esses desligamentos acontecem muitas vezes por conta de remuneração, expatriação, novos setores/funções, mas o peso do “propósito” é sempre muito forte. Ou seja, nessa decisão pesa muito fatores como: ‘o que estou ajudando a construir na empresa atual X o que vou ajudar a construir no novo projeto? Quais serão minhas metas e resultados? Quais projeções de carreira?'”, justifica Costa.
Home Office
O especialista da Unique Group acredita que a volta do profissional ao trabalho presencial ajudou no aumento dos números de demissão. “Nessa mudança na dinâmica os profissionais passaram a olhar mais para si e terem acesso à eventos, cursos, palestras e conteúdo sobre assuntos de qualidade e vida, busca por conhecimentos diversos (como por exemplo quem passou a gostar de gastronomia ou escrever) e com isso desenvolveram um autoconhecimento para apoiar nessa decisão”, confirma.
Por enquanto, o maior número de demissões é voltado para a elite: Gustavo Costa declara que no Brasil, ele é focado em cargos de liderança. “De forma menos intensa que observado nos EUA e Europa, mas o fenômeno de grandes demissões aqui ainda é focado para os cargos de alto escalão”, finaliza.