Afetar e ser afetado nas relações interpessoais

por Juliana Corrêa Schwarz

Há uns dias atrás eu participei de uma banca de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de administração de uma Instituição de Ensino Superior de Curitiba, e uma das estudantes que estava apresentando me disse que as aulas que teve comigo no início do curso a marcaram muito e que ainda guarda um trabalho corrigido por mim, pois ali tem um feedback significativo para ela.

Eu fiquei bem feliz com o seu depoimento, mas confesso que não lembro das palavras que escrevi e não lembro muito bem das interações com essa estudante enquanto era professora dela. Após a banca, fiquei pensativa a respeito do impacto que temos na vida de outras pessoas.

Numa outra situação, encontrei uma colega de trabalho em um congresso e eu disse que estava participando de uma seleção de mestrado. Ela ofereceu ajuda e corrigiu meu projeto antes de eu enviar para a universidade.

Comentou que gostaria de retribuir uma ação minha há anos atrás quando eu a entrevistei em um processo seletivo. Ela tinha sido selecionada e eu a ajudei na mudança para Curitiba, já que era de Minas Gerais.

Às vezes nem é intencional e nem é um ato de bondade ou maldade consciente. Comumente é uma atitude normal diante de um trabalho que nos propomos, mas tudo o que fazemos afeta a vida de outras pessoas para o bem e para o mal. E é tão normal, que nem sempre nos lembramos do que fizemos.

Acima dei exemplos de ações boas, mas quando eu digo que podemos afetar a vida do outro para o mal, eu quero dizer que há momentos que não estamos bem e falamos palavras ríspidas, ou podemos ser insensíveis, indiferentes, ou fazemos algo para machucar. Eu também já fiz isso e não me orgulho! Em contrapartida, também já fui afetada pelas palavras e ações de outras pessoas. Interessante que muita gente nem imagina as consequências de seu ato na minha vida… Ainda bem que, mesmo aquelas palavras que soaram ruins no início, serviram como impulso para a minha caminhada pessoal e profissional.

Com tudo isso quero chamar a atenção para a necessidade de desenvolvermos autoconsciência, empatia e habilidades sociais para nos relacionarmos satisfatoriamente bem com as outras pessoas. A autoconsciência é a ciência que eu tenho de mim mesma.

Como eu estou hoje? O que está me incomodando? O que está me deixando motivada? Como está meu corpo, meu humor, minha energia e meu estado de espírito? Só quando eu tenho autoconsciência eu consigo decidir a melhor forma de reagir diante das circunstâncias da vida.

A empatia é a capacidade de compreender os sentimentos do outro. Muita gente fala em “se colocar no lugar do outro”, porém, particularmente, eu não gosto dessa definição. Não temos como estar na pele de outra pessoa e passar por uma situação idêntica. Compreender é entender, é falar a mesma língua, é buscar escutar e se interessar pela visão de mundo do outro, acolhendo suas emoções sem julgamento. E como é difícil, já que eu só compreendo quando eu desenvolvo o mínimo de autoconsciência.

Tem muita gente que diz: “se eu fosse você, eu faria isso”, se nomeando a pessoa super empática, mas, na realidade, isso não é empatia porque não há uma disponibilidade verdadeira para entender o que o outro está passando.

Por fim, trago o conceito de habilidades sociais, que são “classes de comportamentos sociais no repertório do indivíduo para lidar de maneira adequada com demandas das situações interpessoais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001, p. 31). Essas classes de comportamentos se referem a saber construir laços de amizades, ser solidário, conseguir trabalhar em equipe, resolver problemas, tomar decisões, comunicar-se de forma assertiva e civilizada e se auto monitorar. Ser empático e desenvolver autoconsciência também são comportamentos essenciais para se tornar uma pessoa hábil socialmente.

As habilidades sociais são passíveis de serem aprimoradas ao longo do tempo até o ponto de serem naturais em nós e afetarem positivamente a vida de outras pessoas. Precisamos muito de pessoas hábeis socialmente para construirmos uma sociedade mais humana, justa e equitativa. Que possamos, então, ter bons comportamentos sociais, desprovidos de segundas intenções, para impactar beneficamente a vida das pessoas. Que assim seja!

Referência:

DEL PRETTE; Z.A.P; DEL PRETTE, A. Psicologia das relações interpessoais: Vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, 2001.

Juliana Corrêa Schwarz, psicóloga na abordagem cognitiva-comportamental, mestra em educação e professora na Estácio Curitiba

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar