Desordem Sensorial: um problema comum e pouco diagnosticado

Condição neurológica mais comum do que parece afeta vida social, familiar, entre outros

Sabe aquele amigo “cheio de frescura”? Então, talvez ele possua uma condição neurofisiológica pouco diagnosticada chamada Desordem do Processamento Sensorial (DPS). Identificada pela primeira vez nos anos 50 pela médica Dra. Jean Ayres, a condição atinge o sistema nervoso ainda criança causando dificuldade na integração, compreensão e organização dos sentidos (tato, olfato, audição, paladar e visão).

Quando há a desordem sensorial é comum que algumas habilidades da criança tenham alterações por conta do estresse e desconforto causado por um dos sentidos, afetando diretamente a comunicação, a sociabilidade, o aprendizado, o comportamento e o senso de regularidade da criança.

Existem três tipos de processamento sensorial, o alto, médio e baixo. A condição neurofisiológica afeta esses graus de forma diferente e exige estímulos específicos. Uma das situações comuns em pessoas com DPS é a seletividade alimentar, ou seja, a criança desenvolve aversão a texturas e cores, por exemplo. É aí que nasce um Chato para Comer, isso se dá pela alteração de sensibilidade as vezes intensas, as vezes não.

Segundo a fonoaudióloga Dra. Carla Deliberato, dedicada ao estudo e tratamento de seletividade e recusa alimentar em crianças, muitas delas chegam na clínica com dificuldades alimentares e os pais, por falta de informação não compreendem que pode haver alguma condição neurológica diferenciada e que necessita de atenção, observação e tratamento. “Essas crianças se mostram bem exigentes com a alimentação, sensíveis a cheiros, texturas e cores. Muitas vezes carregam o estigma de chatas pela vida inteira” – comenta a fonoaudióloga.

Durante a terapia de alimentação, as crianças realizam com a fonoaudióloga estímulos de aproximação com os alimentos que até então estão sendo rejeitados por elas. Para isso, faz parte da terapia a criança conseguir manipular nesses alimentos com as mãos e sem nojo, tolerar as mãos sujas, molhadas e melecadas nas mais diversas texturas de alimentos, suportar os cheiros diversos dos alimentos (por exemplo o cheiro de um mamão, de peixe, de ovo…) e tolerar estímulos auditivos mais fortes (por exemplo o barulho de eletrodomésticos ligados, como um liquidificador ou um mixer). Porém, para muitas crianças a aproximação delas com os alimentos numa refeição ou até mesmo num momento de culinária não ocorre porque elas não conseguem processar todos esses estímulos citados acima e, ao invés de se aproximarem, se afastam cada vez mais de situações nesses contextos e, nesses casos, é fundamental que seja investigado se essas crianças não apresentam uma DPS.

“É importante ressaltar que existem duas variações da DPS, a hiper e a hiposensibilidade. A hipersensibilidade é quando a criança sente os estímulos com mais intensidade e a hipo quando há a dificuldade de sentir os estímulos. Para cada uma é necessário estímulos diferentes” – afirma. O diagnóstico é multidisciplinar e envolve uma terapeuta ocupacional especialista em integração sensorial. O quanto antes diagnosticada, mais chances de tratar e a criança ter uma vida absolutamente normal.

Uma vez o diagnóstico de DPS confirmado, a terapeuta ocupacional pode indicar sessões de integração sensorial para que exercícios específicos auxiliem a criança a integrar o sistema nervoso e ela consiga processar informações sensoriais fundamentais para uma vida comum. Nestes casos, a terapia de alimentação com enfoque na seletividade alimentar deve realizada em parceria com esse trabalho de integração sensorial para que os desafios sensoriais na alimentação da criança possam ser devidamente vencidos. “É primordial dar atenção à questão sensorial da criança pois a ajuda especializada realmente pode fazer a diferença na alimentação dessa criança que é vista como a “chata para comer”. ” – finaliza Carla.

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