Um guia para interpretar os anticorpos neutralizantes

Por Fabio Moruzzi*

Felizmente a vacinação contra a COVID-19 está avançando no país, e com isso as pessoas têm buscado exames de anticorpos neutralizantes depois de se vacinarem para checar sua capacidade de neutralização do vírus por seus anticorpos criados pela vacina. Para isso, a metodologia de detecção de anticorpos neutralizantes indica qual proporção dessas moléculas tem a capacidade de neutralizar a entrada do vírus nas células do corpo. Mas, para entender quanto se avançou em termos de testes de detecção do coronavírus, é preciso voltar dois passos.

No início da pandemia havia os testes rápidos de anticorpos IgM (imunoglobulinas de classe M), os que aparecem primeiro, indicando infecção recente. Essa presença muitas vezes sinaliza que o paciente está na primeira fase da doença, com o vírus ativo. O IgG (imunoglobulinas de classe G), cuja produção começa depois, indica que a infecção se deu há algum tempo, e possivelmente a pessoa tenha desenvolvido alguma resposta imunológica. Depois, começaram a aparecer os testes de antígeno e simultaneamente o PCR (Polimerase Chain Reaction), que buscam o vírus ativo através, respectivamente pelo antígeno N e pelo seu material genético. Por fim, surgiu o teste de neutralização.

Os exames de neutralização não detectam apenas se há anticorpo ou não, mas se ele é capaz de neutralizar a entrada do vírus na célula. Este tipo de teste já existia, mas não era disponibilizado para a população. Era feito apenas em laboratórios de pesquisa por ser de alta complexidade, carecendo de nível de biossegurança alto, uma vez que trabalha com o vírus ativo, sendo capaz de se replicar e isso leva dias para ser feito, envolvendo a contagem de células que sobreviveram ao ataque do vírus, tudo isto feito em Laboratório. É um material que precisa ser colocado em um meio de crescimento, ser limpo, receber soro e depois o vírus – e, se ele conseguir matar as células, é porque não tem o agente neutralizante.

Agora, há um teste de neutralizante muito mais viável para os laboratórios comuns de diagnóstico, feito com outra metodologia, o ELISA (do inglês Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) ou ensaio de imunoabsorção enzimática. Em comparação com aquele teste que se faziam em instituições de pesquisa, ele é muito mais rápido, pode ser automatizado, adaptando-se às máquinas de liga convencionais e ampliando a capacidade de rodar mais exames ao mesmo tempo, possibilitando então o Laboratório clinico oferecer este teste ao público. Por todos esses motivos, é a primeira vez que o teste de Neutralização passou a ser feito em laboratórios de analises clinicas (diagnóstico).

Os testes convencionais de sorologia detectam o anticorpo. Já o novo exame mimetiza a situação de infecção a fim de verificar se os anticorpos neutralizantes são capazes de neutralizar a entrada do vírus na célula. O reagente do teste tem um receptor celular específico utilizado pelo vírus para entrar na célula e coloca a amostra do paciente em contato com essa representação do vírus, assim se enxerga que nessa interação há anticorpos.

No primeiro contato que o nosso corpo tem com o vírus, ele vai começar a reconhecer o que é o agente. Nesse momento começa a reação e a resposta imune mais efetiva, específica para aquele vírus. Inicialmente, o paciente terá um anticorpo ligante, que só detecta o vírus. O corpo vai amadurecendo essa resposta e começa a formar anticorpos mais fortes, mais ávidos, capazes de gerar proteção. Então, ele se liga ao vírus e bloqueia a entrada dele na célula.

Atualmente, há três recomendações de uso para anticorpos neutralizantes: no desenvolvimento das vacinas (testando sua eficácia), para a triagem de doadores de plasma convalescente (uma das terapias alternativas para combater a COVID-19) e na verificação de quem desenvolveu esse tipo de resposta imune após a contaminação ou após a vacina (se formou de corpos neutralizantes). De modo geral, após 15 ou 20 dias é possível ter alguma produção de anticorpos, depois da primeira dose da vacina, da segunda dose ou, ainda, após uma infecção. A diferença é que vacinação tem data, e pela infecção é mais difícil saber o dia exato da contaminação.

A grande vantagem desse exame é saber se o corpo gera anticorpos funcionais. Com o passar do tempo, eles vão sendo eliminados do corpo, mas a capacidade de produção continua na memória imunológica do organismo – embora ainda estejam em andamento, os estudos que comprovem o tempo dessa memória, ou seja, o intervalo que deveremos nos vacinar (além da primeira e segunda dose, conforme o imunizante). Existem diversas formas de imunidade, tais como a adquirida após contato com o vírus, por vacinação ou até ‘efeito rebanho’. A interpretação do exame exige cautela, visto a diversidade de resposta individual de cada organismo, que conta com várias vias para proteção e desenvolvimento de imunidade, entre elas a dominante, a de anticorpos neutralizantes. Mas é importante sabermos que esta resposta não é a única!

É válido lembrar que os imunizantes contribuem para que não se desenvolva a doença de maneira grave, mas não impedem 100% a infecção pelo vírus, nem a transmissão dele por quem já foi vacinado, e do contrário que se imaginava no início da pandemia, existe o risco de reinfeção pela COVID-19. As medidas de proteção devem continuar sendo seguidas independentemente de já se ter tido a doença ou sido imunizado com a vacina.

 

*Fabio Moruzzi CCO da NL Diagnóstica, pioneira em oferecer testes rápidos para a covid-19 e no lançamento da tecnologia cPass no Brasil, capaz de identificar e quantificar anticorpos neutralizantes. – nldiagnostica@nbpress.com

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