Uso de tecnologia para controlar crises epilépticas pode reduzir número de internações hospitalares pela metade, liberando leitos durante pandemia

Pacientes com epilepsia refratária, aqueles resistentes ao tratamento medicamentoso, permanecem internados em média 39 dias por ano, de acordo com um estudo americano de 2012, sobre o ônus de epilepsia não controlada em pacientes que requerem uma visita ao pronto-socorro ou hospitalização. Além disso, um paciente que não controla adequadamente suas crises recorre ao pronto-socorro cerca de 2 vezes mais do que um paciente que as controla e, por consequência, exige um maior número de atendimento com especialistas. Em épocas de pandemia, a liberação de leitos hospitalares torna-se crucial para o tratamento dos pacientes com Covid-19.

“Com a utilização da terapia de estimulação do nervo-vago, VNS, uma espécie de marca-passo para o cérebro, esse problema pode ser bastante atenuado”, afirma Celso Freitas, diretor médico da LivaNova, empresa de tecnologia médica líder de mercado na área de neurologia. Segundo um estudo de 2018 (Autoestimulação no tratamento com estimulador do nervo vago: modulação da neuromodulação), com o uso da terapia VNS as internações hospitalares por crise podem ser reduzidas em até 50%, e o número de pronto-atendimentos em até 75%.

No Brasil estima-se que cerca de 600 pacientes teriam indicação para o uso da tecnologia no SUS. Segundo dossiê da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), que recomenda a incorporação da terapia VNS no SUS, a incorporação desta tecnologia no SUS poderia representar uma redução significativa do número de internações de pacientes. Desta forma seria possível remanejar orçamentos e recursos que hoje são gastos no gerenciamento das crises desses pacientes, liberando mais de 12 mil leitos hospitalares/ano. Em épocas de pandemia, quando quase todos os hospitais do Brasil estão com ocupação máxima, esta liberação torna-se fundamental”, afirma Celso Freitas.

A fisioterapeuta Mary Ellen Mac fadden Moraes conta que seu filho Arthur, de apenas 5 anos, ficava praticamente internado o ano inteiro no hospital antes de implantar a terapia VNS. “Ele tinha mais de 100 convulsões seríssimas diariamente. Depois de implantar o VNS, no final de 2018, não teve mais que ser internado por conta da epilepsia. Nossa vida mudou completamente”, diz ela.


Terapia VNS – Como funciona:

 

A Terapia VNS usa um gerador, um pequeno aparelho médico como um marca-passo, que através de um condutor envia minúsculos impulsos elétricos ao eletrodo ligado ao nervo vago esquerdo situado no pescoço, ajudando a prevenir as irregularidades elétricas que causam as crises. O nervo vago é um grande elo de comunicação entre o corpo e o cérebro, responsável por enviar impulsos às partes do cérebro.

 

Procedimento de implante da Terapia VNS:

 

•  O procedimento da Terapia VNS não envolve cirurgia cerebral.

•  A cirurgia, rápida e simples, geralmente é realizada sob anestesia geral que pode requerer uma curta estadia no hospital.

•  Através de uma pequena incisão o gerador de pulso é implantado sob a pele abaixo da clavícula esquerda ou próximo da axila esquerda.

•  Uma segunda incisão pequena é efetuada no pescoço para fixar dois pequenos eletrodos ao nervo vago esquerdo. Os eletrodos são ligados ao gerador por um condutor sob a pele.

•  Após a cirurgia, além das duas pequenas cicatrizes devido às incisões, quase não se pode notar o gerador que apresenta apenas uma leve elevação na pele do peito onde foi implantado.

 

Em adição à estimulação intermitente programada é fornecido um ímã aos pacientes, o qual permite aos pacientes ou cuidadores realizarem estimulações magnéticas sob demanda ao perceberem o início de uma crise. Por meio da estimulação sob demanda é possível parar ou diminuir a gravidade das crises epilépticas. A estimulação magnética sob demanda é um benefício único da terapia de eletroestimulação do nervo vago que oferece mais qualidade de vida aos pacientes e suas famílias.

A Epilepsia

A epilepsia é uma condição neurológica com incidência em torno de 1 a 2% da população. De acordo com a OMS, aproximadamente 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia, o que posiciona a epilepsia como uma das doenças neurológicas crônicas mais comuns no planeta. No Brasil, as estimativas variam de 2 a 3 milhões de pessoas. Ela ocorre quando o cérebro não funciona corretamente e um grupamento de células cerebrais (neurônios) se comporta de maneira hiperexcitável.

Atualmente existem três opções de tratamento para a doença: a química (medicamentos e/ou dieta), a cirurgia ressectiva e a neuromodulação (terapia VNS). A maioria dos pacientes com epilepsia recebe o tratamento medicamentoso e quando este é feito corretamente 70% tem boa resposta, podendo até viver sem crises. Os casos com indicação cirúrgica são restritos, ocorrendo somente quando a região cerebral responsável pelas crises é bem definida e sua remoção não trará consequências ao paciente. No entanto, 20 a 30% dos pacientes refratários não evoluem bem ou não são candidatos à cirurgia.  Para estes, o tratamento disponível é a neuromodulação.  Dentro deste tipo de tratamento o estimulador do nervo vago (terapia VNS) foi o primeiro a ser aprovado pelo FDA em 1997, e no Brasil em 2000.

 

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