Novidades no tratamento do câncer de pulmão
Em 2020, foram estimados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) 30.200 novos casos de câncer de pulmão no Brasil, sendo que o tipo mais comum é o de Não Pequenas Células (CPNPC), correspondendo a cerca de 80 a 90% dos casos, desses, aproximadamente, 63% são adenocarcinomas.
Estatísticas apontam que aproximadamente 60% dos pacientes com CPNPC subtipo adenocarcinoma apresentam tumores com mutações ativadoras, sendo 25% delas mutação de EGFR. As mutações mais comuns nesses casos são as deleções no quadro de leitura na sequência de aminoácidos LAAG‡ do éxon 19 e a mutação do éxon 21 L858R. As mutações de inserção no éxon 20 são o 3º grupo mais prevalente de mutações do EGFR, mas, mesmo assim, não são detectadas com frequência.
Dados apresentados recentemente durante a reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica mostram que menos da metade dos pacientes com CPNPC não tratados anteriormente foram submetidos a testes para todos os cinco biomarcadores avaliados no estudo de fase III IMPower 010.
Quase todos os 3.474 pacientes no estudo (90%) foram testados para pelo menos um biomarcador. Apenas 46% foram testados para todos os cinco biomarcadores – ALK, BRAF, EGFR, ROS1 e PD-L1. Esta lacuna nos testes ilustra “desafios de implementação significativos” que existem apesar dos enormes avanços no desenvolvimento de medicamentos baseados em biomarcadores e na tecnologia para detectar as mutações que podem orientar a terapia”, cita a oncologista clínica Tabatha Nakakogue Dallagnol, do Instituto de Oncologia do Paraná – IOP
É fundamental aplicar o que já está disponível para obter a informação do biomarcador, garantindo que cada paciente com uma mutação de EGFR receba um inibidor de tirosina quinase EGFR e assim por diante, para todos os outros biomarcadores que devem ser testados.
Para a oncologista clínica, “um dos maiores avanços da Oncologia moderna é justamente a mudança conceitual de escolha de tratamento não mais centrada em quimioterapia citotóxica convencional apenas, mas dirigida por análise molecular dos tumores, que, em perspectiva final, garantem tratamentos cada vez mais personalizados”.
Detecção de mutações com alvos moleculares e pesquisa por biomarcadores, por exemplo, compõem uma das áreas de maior interesse no campo de medicina de precisão, cujo objetivo é buscar ferramentas preditivas que contribuam para melhor manejo dos pacientes oncológicos, em diferentes cenários de tratamento (doença localizada ou metastática).
“No entanto, algumas ressalvas precisam ser discutidas. A complexidade das células tumorais e do próprio microambiente de alterações moleculares, muitas vezes, dificulta a identificação de mutações realmente relevantes para a progressão do câncer (chamadas mutações drivers). Esse conceito de heterogeneidade tumoral pode ser responsável, por exemplo, pela ausência de benefício de determinadas terapias-alvo disponíveis para certos tumores, o que gera, em última análise, a necessidade crescente de comitês multidisciplinares ou tumor boards para discussão dos casos clínicos e otimização na seleção das terapias mais modernas”, aponta Dr. Tabatha N. Dallagnol.