A indústria da moda caminha para o on demand, mas está atrasada
Muito tem se falado sobre empresas adotando medidas ESG – sigla em inglês para environmental, social and governance (ambiental, social e governança corporativa, no português), mas na indústria da moda a pauta é urgente há muito tempo. Não é à toa que o segmento é um dos mais poluentes do mundo e sua lógica de produção não condiz com o consumo.
Os dados do Overproduction: Taboo in Fashion mostram que 30% das roupas produzidas nunca são vendidas e outro terço só sai das lojas com desconto. Já os números da americana Printful mostram que 1 em cada 5 peças de roupas produzidas são descartadas sem nunca serem usadas. Essa conta sai cara para o meio ambiente: são mais de 12,8 mil toneladas de roupas enviadas para aterros sanitários anualmente. Também são produzidos, anualmente, 92 milhões de toneladas de resíduos sólidos com 98 milhões de toneladas de recursos naturais. Por falar em recursos naturais, somente para produzir um par de calças jeans são utilizados 7 mil litros de água – o suficiente para uma pessoa beber durante 6 anos.
Considerando que estamos lidando com o desperdício de recursos escassos, produção desnecessária de resíduos, uma agenda cada vez mais pautada pela sustentabilidade e uma geração que prioriza marcas sustentáveis – 42% da geração Z prefere empresas com essas práticas e 38% deixaria de comprar produtos de marcas que tenham má influência no meio ambiente segundo a pesquisa Millenium Survey – as grandes marcas do varejo começaram a olhar com um pouco mais de atenção para a pauta.
Algumas empresas de produção em massa passaram a usar materiais mais sustentáveis e até testar o modelo on demand – ou seja, produzir somente o que for comprado – em um de seus milhares centros de produção, mas estão atrasadas. As iniciativas, embora plausíveis, não resolvem, nem de longe, o tamanho do problema. A maioria tem tentado se posicionar como sustentável com iniciativas pontuais e nomes bonitos às suas iniciativas ao invés de realmente mudar como produzir de forma perene.
Já existem uma série de tecnologias e soluções que colaboram com a mudança dessa lógica, mas há um desafio de mudar não só o mindset das pessoas para o consumo, mas principalmente das empresas para produção. O que não é interessante para as grandes produtoras em massa no momento e incentivadoras do modelo fast fashion ou moda rápida.
No entanto, se a lógica de produção não mudar, a conta vai pesar (ainda mais) não só para o meio ambiente, como no bolso dessas empresas, que terão que lidar com custos cada vez maiores para materiais e energia, uma vez que os recursos são escassos. É justamente o que mostrou uma projeção da Pulse of the Fashion Industry: as marcas de moda vão ver uma redução de pelo menos US$ 52 bilhões em toda a indústria até 2030 se continuarem com esse modelo.
Enquanto as grandes marcas estão testando de maneira pontual meios de serem um pouco mais sustentáveis, elas seguem utilizando recursos escassos, produzindo mais do que é consumido e gerando cada vez mais resíduos. Infelizmente, o meio ambiente está sem tempo para o lento despertar da consciência sustentável da indústria da moda.
* Fábio Zausner é fundador e CEO da Tudu, uma retailtech que nasceu com a proposta de vender roupas e produtos somente sob demanda