Vestido de Noiva

Luisa era uma mulher tida como “”solteirona””.

Na verdade, ela tinha 50 anos (eu diria até que mal vividos), porém, não aparentava aquela idade, porque, sem muita vaidade, mantinha-se em forma e com uma discreta elegância.

Luisa não teve muito tempo para si. Ajudou na criação dos irmãos menores e quando o pai faleceu, foi trabalhar para ajudar no sustento da família e quando percebeu o tempo havia passado e ela estava sozinha.

Cansada daquela vida, arrumou as malas de foi morar em outra cidade. Mas teve que brigar muito pela sua independência.

Conseguiu um emprego de bordadeira numa confecção, Luisa bordava vestidos de noivas. Passava horas criando formas e desenhos que tanto embelezavam aqueles tecidos que algum dia fariam a felicidade e a realização dos sonhos de alguém.

Terminado o seu turno, seguia para a sua tranquila rotina, não sem antes passar na confeitaria preferida, onde comprava uma garrafa de água para tomar no caminho e uma fatia de bolo para o “”chá das 5″”.

À porta da confeitaria, ainda dando alguns passos, virou-se para despedir-se da atendente, ao voltar-se chocou-se com uma pessoa e lá se foram água e o bolo. Instintivamente, ambos abaixaram-se sem saber o que fazer, na tentativa de juntar o que sobrou do bolo. E então, uma voz de trovão ecoou pelo recinto : “”desculpe”” .Luisa, também sem jeito, recusou o apelo dele em querer comprar outra fatia.

E cada um seguiu seu caminho.

Vez ou outra, Luisa lembrava do acontecido, sorria e continuava na sua lida.

Dias depois, saindo da confeitaria, ela o viu, parado à porta e com as mãos levantadas, brincando disse : “”sem trombada””?

Riram, cumprimentaram-se e saíram, .

Alguns passos à frente, Luisa virou-se e ele ainda estava na porta, visivelmente constrangido por ter sido apanhado olhando para ela, acenou e sumiu confeitaria adentro.

Foi então que Luisa se deu conta de que pensava muito naquele homem que sequer sabia o nome.

Os dias foram passando e ela sentiu falta dele, mas não sabia precisar quanto tempo ficou sem vê-lo. E ficou triste.

Tinha até perdido a vontade de entrar na confeitaria, “””o que não tem remédio, remediado está “”, pensava. E voltou à sua “”mesmice”” de sempre.

16:00 horas, pontualmente Luisa bateu o seu cartão-ponto e saiu…e qual foi a sua surpresa ao abrir o portão e deparar-se com ele e como uma colegial, não sabia o que fazer, o que dizer, o que pensar.

Ao aproximarem-se, olhos nos olhos e com um indisfarçável sorriso de satisfação, apresentaram-se :
Eduardo, Luisa.

E ali começou a ser delineado o que enfeitaria o vestido de noiva que Luisa usaria num futuro bem próximo,

Vestido de noiva aos 50 anos ???

Siiiimmmm !!!!!

O amor não tem idade. O amor não tem preconceito. O amor não tem fronteira. O amor não tem pudor. O amor não tem razão.

É simplesmente AMOR.

Pelo menos é isto que eu penso e o que desejo para todas aquelas mulheres que por um rótulo, imposto por uma sociedade discriminatória, deixaram a felicidade escapar das suas mãos e que hoje lamentam não terem derrubado uma fatia de bolo na porta de uma confeitaria qualquer.

Ah, e se quiserem casar com um lindo Vestido de Noiva, aos 50, 60, 70 anos, casem-se e sejam felizes !!!!!

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