É a reciprocidade que mantém vínculos afetivos saudáveis
“A indiferença, muitas vezes, fere mais do que a raiva”. A afirmação é do PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu ao refletir sobre a dinâmica que envolve todo o relacionamento humano. “Portanto, concluo que a reciprocidade é o fator que garante o equilíbrio e mantém a saúde nos vínculos afetivos; mas a reciprocidade não é uma regra, não há como cobrar do outro que ele nos dê exatamente o que oferecemos porque ele só pode oferecer o que ele tem”, pondera.
Ao afirmar que são inúmeras as camadas e matizes que envolvem diferentes relacionamentos (românticos, profissionais, familiares, fraternais), Fabiano argumenta que prever o comportamento do outro cria expectativas que podem ter consequências ruins como, por exemplo, a mágoa.
O neurocientista destaca que independente do tipo de relacionamento, é imprescindível uma espécie de “liga conectiva”, ou seja, “a reciprocidade une e mantém os laços afetivos”, sublinha, alertando que é preciso saber escolher com quem se relacionar. “A reciprocidade é fundamental para a qualidade da relação e um princípio valioso para a vida”, afirma.
Um relacionamento positivo, em que a reciprocidade tem papel preponderante, não tem espaço para inércia, frieza e indiferença e, muito menos, para emoções descontroladas, adoecidas e negativas. “Muitas vezes, o casal briga para tentar manter a relação, isto é, investe uma energia contrária de ambiente harmonioso, de paz, de amor”, ressalta Fabiano. “Esse cenário também desenha o adoecimento do amor, um sentimento tão contraditório como poderoso”, aponta.
Fabiano assegura que quando a indiferença se instala é sinal de que existe no relacionamento uma desistência, “um tanto faz, a liga rompe”. Ilustra sua colocação afirmando que “muitos casais ficam juntos por força do hábito, comodismo, preguiça, carência, necessidade de controle e tantos outros motivos. Porém, o apelo físico não existe, certamente, o amor acabou, o fogo da paixão apagou”, acentua.
É o cenário perfeito para a indiferença se instalar e ferir muitos mais do que a raiva. “Onde não há mais desejo de harmonia, não haverá investimento afetivo de conquista”, frisa Fabiano. Ele explica que diante de queixas e reclamações ainda é possível a tentativa de ajuste e reconciliação, no entanto, perante a indiferença, “fica claro que no espaço criado entre dois seres há um “eco sentimental” imenso e egoísta, onde só se ouve a própria voz”.
De acordo com Fabiano, amor e ódio não são antônimos. “O contrário do amor é a indiferença, a falta absoluta de engajamento”, define. Para o neurocientista, quando o “nós” não é mais o sujeito da relação e se desfaz e apenas o “eu” se mantém na mais absoluta solidão, é necessário ter coragem de revelar a falência afetiva. “É mais honesto e admirável do que carregar nas costas o peso de um naufrágio emocional, porque o amor é chama que aquece um relacionamento e se ela apaga, é preciso reascendê-la”.
No pensamento do neurocientista, às vezes, é melhor ser feliz sozinho do que fazer par com a infelicidade.
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