O que eu quero no Dia das Mães

Eu quero tempo!
A maior dádiva que recebemos de presente de Deus, do Universo, da Consciência Maior, da Teoria da Evolução, ou seja, lá de quem ou do que for – cada um tem a sua crença que merece ser respeitada –, é o tempo.

Byung-Chul Han, um filósofo e teólogo coreano contemporâneo, professor na Universidade de Berlim na Alemanha, faz uma crítica bem oportuna a nossa sociedade atual que privilegia o desempenho e a atividade constante, o que ele chamou de sociedade do cansaço.

Segundo esse autor:

“Depois de terminar sua criação, Deus chamou ao sétimo dia de sagrado. Sagrado, portanto, não é o dia do para-isso, mas o dia do não-para, um dia no qual seria possível o uso do inútil” (HAN, 2015, p. 40).

Eu quero um dia sagrado e inútil que hoje, para mim e para muitos, é um privilégio. Às vezes até paramos o corpo, mas a cabeça está em constante atividade: “eu tenho que fazer isso”, “eu preciso fazer aquele outro rápido”, “eu devia ter olhado isso”. Que loucura!

Eu sinto falta e um tempo em que eu colocava o CD da Marisa Monte (sim, CD! Já faz muito tempo), deitava na minha cama e ouvia a minha música preferida “Amor I love you” e todas as outras do mesmo CD. Ah! E adorava ouvir Caetano Veloso e Djavan também. Eu deixava a minha cabeça voar. Não dormia, escutava a música, sentia a música, chorava às vezes, imaginava cenas e situações, ou seja, eu curtia de verdade o momento. Eu não tinha celular ou laptop na época e minha internet era discada. Que beleza! Eu descansava e me renovava.

Quando eu viajava, eu não olhava para aparelhos para “ocupar o tempo”. Eu olhava as paisagens pela janela. Eu faço isso até hoje na verdade. Eu não sei o que passa pela minha cabeça na hora, mas o “não fazer nada”, só olhar, é o que eu compreendo como aproveitar essa dádiva que recebemos: o tempo!

Então de presente eu quero isso: tempo! Quero ouvir música e olhar para o teto em cima da cama. Agora com meus filhos (tenho dois lindos adolescentes). Não quero fazer almoço, mas quero comer uma comida bem gostosa bem devagar. Quero não ter hora, nem compromisso e não quero pensar no trabalho que estou devendo. Quero assistir a um filme bem bobo daqueles que não precisa pensar. Quero me deliciar lendo as várias cartinhas que minha filha adora escrever para mim no Dia das Mães. Quero estar lenta, em paz e tranquila.

É só isso que peço.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis, RJ : Vozes, 2015.

 

Juliana Corrêa Schwarz, psicóloga clínica com base na Terapia Cognitiva-Comportamental e Professora na Estácio Curitiba

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