O desafio da vacinação covid-19 no mundo está longe do fim

Estudo elaborado pelo Comitê de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento da InterPlayers, o hub de negócios da saúde e do bem-estar, mostra que enquanto do ponto de vista do cidadão a vacinação é um processo simples que não leva mais que alguns segundos, na prática, há um longo caminho desde a liberação para uso até a sua massificação.

Independentemente da eficácia e do custo das vacinas, a logística que vai do recebimento do produto à efetiva aplicação na população tem se mostrado muito mais complexa e lenta do que muitos países supunham.

Em primeiro lugar, assistimos a disputas acirradas pelo recebimento das vacinas. Os países têm lutado por parte de uma produção que insiste em atrasar e por prioridades de entrega. E aí vem outra complexidade, a obrigatoriedade da 2ª dose, que implica uma grande decisão: vacinar o máximo possível de pessoas com a 1ª dose e gerenciar para que haja vacina em tempo hábil para aplicar a 2ª dose ou ser mais conservador atendendo menor parte da população com duas doses garantidas. Nesse quesito, estamos vendo de tudo neste novo mundo.

Superados esses pontos, vem a distribuição para estados e cidades, numa tarefa de alta complexidade, por contemplar serviços especializados de transporte e acondicionamento somados às variáveis não controláveis que impactam a quantidade de pessoas vacinadas, por exemplo, as que se negam a tomar a vacina e as que não têm possibilidade de se deslocarem aos pontos de atendimento pela dificuldade de transporte, quadro de saúde ou falta de um cuidador que o acompanhe. Essa diferença entre o planejado e o realizado provoca distorção na quantidade de pessoas vacinadas e nas prioridades estabelecidas, fazendo com que, em alguns locais, pessoas menos prioritárias sejam atendidas mais rapidamente, podendo provocar êxodo em busca da vacina.

Depois disso vem o que é classificado com estrutura local, que inicia com o posto de aplicação (público, farmácia e shopping, entre outros), profissionais da saúde habilitados, seringas, agulhas e a organização para que o processo ocorra de forma rápida, segura e organizada.

O estudo levou em consideração os fatores: PIB país e per capita, população e quantidade de vacinas aplicadas, sem considerar a quantidade de doses per capita por ser uma informação não disponibilizada. A cuidadosa formação do grupo de 20 países contou com os 10 maiores pelo quesito população, os 15 mais ricos pelo PIB, incluiu Chile e Argentina (excluindo Japão, Austrália, Coreia do Sul, Nigéria e demais países da América Latina por não disponibilizarem dados de vacinação) e foi formatado em quatro visões. Esses 20 países representam 60% da população mundial com menos de 200 milhões de doses aplicadas, equivalente a 3,6%.

VISÃO PERCENTUAL DAS DOSES APLICADAS EM PAÍSES MAIS RICOS

Considerando o top 5:

1 – Reino Unido figura em primeiro com 26% de doses aplicadas;

2 –  Estados Unidos (18%),

3 – Alemanha (5,7%),

4 – China (2,8%)

5 – Índia (0,8%).

 

Os cinco seguintes contam com Itália (5,6%), França (5,2%), Canadá (3,7%), Brasil (3,1%) e Rússia (2,8%). O Brasil, que figura abaixo do décimo no PIB 2020, supera China, Índia e Rússia em percentual de doses aplicadas.

VISÃO PERCENTUAL DAS DOSES APLICADAS EM PAÍSES MAIS RICOS PER CAPITA

Dentre os 20 países selecionados, a Suíça é top no PIB per capita, com mais de 7% de doses aplicadas, seguida da Noruega com 7%, Estados Unidos (18%), Alemanha (5,7%) e Israel superando 80%. No grupo do sexto ao décimo figuram Canadá, Reino Unido, França, Itália e Espanha. O Brasil ocupa a 16ª posição nesse ranking, sendo superado pelos 11 primeiros, mas superando Argentina, China, Rússia e México, que têm melhor posicionamento nesse ranking.

VISÃO DA QUANTIDADE ABSOLUTA DE DOSES APLICADAS

O Brasil ocupa a sexta posição com 6,5 milhões, sendo superado por Estados Unidos, China, Reino Unido, Índia e Israel, respectivamente com 60 milhões, 40 milhões, 17 milhões, 10 milhões e 7 milhões.

VISÃO DA AMÉRICA DO SUL

Considerando os três países que disponibilizam informações consistentes sobre vacinação, temos o Chile com 15% das doses aplicadas em seus 19 milhões de habitantes, seguido pelo Brasil com 6,5 milhões dos mais de 200 milhões de habitantes e Argentina com 1,5%, representando menos de 1 milhão de seus 45 milhões de habitantes.

UM CENÁRIO EM MUDANÇA

Neste momento da vacinação, o fator econômico, a capacidade logística, a população, a complexidade geográfica e o percentual de rejeição de parte população vêm impactando a celeridade do processo e frustrando um pouco as expectativas de pronta vacinação mundial.

Destacam-se no estudo o Reino Unido, cuja velocidade de vacinação está de acordo os planos de seu governo, com 26% de seus 67 milhões de doses aplicadas e expectativa de conclusão em meados de 2021, e de Israel por superar 80% de doses dos seus menos de 10 milhões de habitantes, os quais poderão ser observados quanto à eficácia do processo ao longo dos próximos meses.

A expectativa é que este cenário sofra grandes mudanças ao longo dos próximos meses com a maior produção de vacinas, quando poderá ser verificado o impacto dos demais fatores na vacinação mundial.

*Natalino Barioni é fundador da SevenPDV e da Siena Innova, Comitê Inovação, P&D da InterPlayers (https://www.interplayers.com.br/) – interplayers@nbpress.com

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